quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Visita a Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan

Olá pessoal,

No texto de hoje vim compartilhar a experiência que tive ao visitar a cervejaria mais antiga do mundo, ainda em operação, a famosa Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan, que produz as Weihenstephaner.



A cervejaria é uma empresa estatal, controlada majoritariamente pelo governo do estado da Baviera, e fica localizada na montanha de Weihenstephan, no bairro homônimo, na cidade de Freising.

A cervejaria está em operação desde 1040, quando ainda era um mosteiro beneditino, com direito de produção e serviço de cerveja. No entanto, vale ressaltar que já antes dessa época, os monges já produziam cerveja, e que já por volta do século 8, o lúpulo já era cultivado ao redor do mosteiro.

Os monges já produziam cervejas diferentes para diferentes grupos, de modo que a peregrinos, mendigos e serventes era oferecido uma cerveja mais "aguada". Aos artesãos era oferecida uma variação mais forte, enquanto que aos abades e outras autoridades religiosas era oferecida uma versão com maior "drinkability.

Com secularização do estado em 1803, o mosteiro chegou ao fim e todos as posses e direitos foram transferidos para o Estado bávaro. Em 1803 a cervejaria do mosteiro foi rebatizada para cervejaria estatal do reino da Baviera e nesse momento, pode utilizar o brasão do reino como marca.

A antiga cervejaria estatal do reino da baviera, desde 1921 se chama Cervejaria estatal bávara Weihenstephan, e utiliza o brasão estadual com 2 leões como marca.


Obviamente, a cervejaria mais antiga do mundo se modernizou com o passar do tempo, e hoje é uma das mais modernas. Nos ultimos anos, a adega foi ampliada, com novos tanques de fermentação e tanques de maturação, e às instalações da brassagem a filtração foram trazidas as tecnologias mais modernas.

Pertencente ao grupo KRONES AG

Nos silos que pude observar, de malte de trigo, cevada, e malte munique, todos apresentavam simbolo kosher.

Malte de trigo Kosher
Na sala de brassagem, foram passados alguns dados interessantes como a dureza da água, porcentagem de malte de trigo, e alguns dados associados a rendimento.

Tina de brassagem, com capacidade de 300hL.

Alguns dados tecnicos sobre a brassagem.
( Tina de fervura a vapor; e Moagem, mostura, clarificação e refriamento do mosto completamente automatizados)

Porcentagem de trigo utilizada em uma das receitas.
Dureza da água, em grau alemão
(Tal valor é indicado para cervejas escuras, de modo que para cervejas claras é necessária uma correção)
Em seguida, fomos para adega de tanques horizontais, que conferem a cerveja um flavor mais esterificado, justamente como desejado nas cervejas de trigo. 

Tanques de aprox. 1000hL
Algumas especificações do tanque:
N. 660
Ano 1996
Pressão de serviço: 0.9 bar
Temperatura máxima de serviço: 20°C
Volume: 99251L
Resfriamento: GlicoL
Pressão de serviço: 0.9 bar
Conteúdo zona 1: 466L
Conteúdo zona 2: 466L



Após visitar os a área dos tanques de fermentação passamos pelos tanques de propagação de levedura, que são reutilizadas 6vezes. Um número interessante, se levado em conta que as cervejas de massa da ambev reutilizam levedura em torno de 4 vezes, e associado a isso os extratos originais das cervejas produzidas aqui.

Tanques de propagação


 Depois de passar pelos tanques de propagação, fomos para a área onde ficam os tanques de maturação, onde a Helles, por exemplo, repousa por 2 semanas.

Cones dos tanques de maturação

Em 2014, o envase, que é restrito a visitação, foi ampliado e desde então conta com capacidade de 36mil garrafas/ hora.
Apenas uma miniatura

Se quiser acompanhar em tempo real algumas das experiências por aqui, me siga lá no Instagram.

Até a próxima!






Bônus!
O restaurante da cervejaria é conhecido também como auditório 13 -  e inclusive a uma placa lá -  já que muitas as aulas no semestre de verão costumam terminar por lá e é onde alguns professores costumam ser vistos por frequência.

Na minha primeira visita, tive a oportunidade de conhecer a Pale Ale sasonal da Weihenstephan. E o caso dela me chamou a atenção por ser somente comercializada no restaurante, já que ela não está de acordo com a lei da pureza. 


A pergunta que eu deixo pra você é: Por quê? 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O que é realmente a lei de pureza alemã?


Olá pessoal,

O texto de hoje é um pouco diferente dos quais venho escrevendo. Mas já que estou na Alemanha, e a lei de pureza é o rege o mercado cervejeiro por aqui... Opa! É isso mesmo?

Nesse texto, trago uma reportagem bem interessante que li recentemente sobre alguns mitos e boatos sobre a lei de pureza alemã. O texto original é em Alemão, mas eu traduzi aqui na integra pra vocês. Espero que seja enriquecedor!  Boa leitura!


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Cálculo de IBU

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre lúpulo. Ele apresenta as contas feitas para o cálculo de IBU da sua cerveja. 


O amargor da cerveja é medido em unidades de amargor internacional, ou IBU (do inglês internacional bitter units). O valor de IBU está relacionado diretamente a quantidade de iso-alfa-ácidos, em miligramas, dissolvidas em 1 litro de cerveja. Desse modo, uma cerveja que tem 30 IBU, possui 30mg de iso-alfa-ácidos em cada litro. 

Para estimar a quantidade correta de lúpulo a ser utilizada a fim da obtenção do amargor desejado, é preciso saber o teor de alfa-ácidos do lúpulo, a taxa de extração dos alfa-ácidos presentes no lúpulo, e o volume de cerveja ao final da fervura, ou volume de apronte. 

Tanto o teor de alfa-ácidos do lúpulo, quanto a taxa de extração estão suscetíveis a grandes variações. O teor de alfa-ácidos no lúpulo sofre decaimento com o tempo, e também em função de condições de armazenamento indesejada, e da forma de apresentação do lúpulo, e a maneira através da qual foi embalado. Ou seja, em termos práticos, quanto mais velho o lúpulo, maiores as chances de haver uma incongruência entre o teor real e o teor apresentado no rótulo. 

A taxa de extração de alfa-ácidos é o valor associado a quantidade desta substância que se espera encontrar no mosto após a fervura, e continuará presente no produto final, já que haverá perdas na faixa de 10-20% dos alfa-ácidos isomerizados. Uma vez que a temperatura é essencial para o processo de isomerização dos alfa-ácidos em iso-alfa-acidos, a taxa de extração varia conforme o tempo de fervura. 

Além do tempo de fervura, outros fatores que influenciam na taxa de extração são o vigor e a temperatura de fervura - a fervura em alta altitudes e consequente temperatura de fervura mais baixa resultaria em taxas de extração mais baixas, bem como a realização de fervuras em camaras pressurizadas aumentaria este valor; a forma de apresentação do lúpulo - já que pellets, por exemplo, apresentam maior superficie de contato do que as umbelas, por exemplo; o extrato do mosto; e o pH mais alto.

Apenas para que se possa compreender a aplicação da fórmula de cálculo do IBU desejado, segue-se uma situação problema. (Obviamente, a aplicação da fórmula possibilita diversas possibilidades, como por exemplo adições múltiplas de lúpulo, ou até mesmo para correções de amargor.)

Qual a quantidade de lúpulo, em pellets contendo 11% de alfa-ácidos, a ser adicionada num volume de apronte de 100 litros, com 12,5°P para a obtenção de 23 IBU?   Considerando que o tempo total de fervura será de 60 minutos, e o lúpulo será adicionado após 15 minutos do início da fervura, ou seja, 45 minutos de fervura do lúpulo.


Rendimento do lúpulo de acordo com o tempo de fervura e concentração do mosto
Tabela de conversão de iso- ácido em amargor (Tabela de Klopper) *
1.Quantidade de lúpulo.
25% de rendimento da extração do lúpulo que acontece com 45 mins de fervura do lúpulo em mosto contendo 12,5°P --- 20 mg/L (Quantidade de iso-alfa-ácidos correspondente a 23 IBU) 
100% de rendimento da extração do lúpulo (valor ideal - não acontece de fato) --- X = 80 mg/L

2. Quantidade alfa-ácidos a dosar.
80mg/l (Quantidade de alfa-ácidos necessária) x 100 l (Volume de apronte) = Y = 8000mg de alfa-ácidos = 8g de alfa-ácidos.

3. Quantidade de pellets
11g de alfa-ácidos (Teor de alfa-ácidos do pellet utilizado, em porcentagem- presente no rótulo) ---100g de lúpulo 
8g de alfa-ácidos --- Z = aprox 73g de pellets.

Vale lembrar que estes cálculos conduzem a uma estimativa aproximada dos valores de IBU. Uma medida precisa somente pode ser obtida a partir da análise a partir de métodos laboratoriais.


Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:

Livro
Título - Autor - Ano
Handbook of basic brewing calculations, - S. R. Holle - 2007


* Acima de 25IBU, a razão entre a concentração de iso-alfa-ácidos e o IBU passam a ser de 1:1. Ou seja, 30 IBU, por exemplo, corresponde a 30mg/l de iso-alfa-ácidos.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Técnicas de adição de lúpulo

Olá pessoal,

Hoje o texto é sobre lúpulo. Ele abordará algumas das variadas formas de utilizar o lúpulo na produção da sua cerveja. Obviamente existem inúmeras formas, e seria razoavelmente difícil de abordar todas elas num texto. Aqui, você verá alguns aspectos técnicos relacionados a algumas das muitas técnicas de adição de lúpulo.

Os principais objetivos para a adição do lúpulo na cerveja são a alteração do paladar e do aroma. O aroma é influenciado pelos óleos contidos no lúpulo. Estes óleos voláteis são responsáveis pelo típico aroma de lúpulo presente na cerveja. O sabor da cerveja, por sua vez, é determinado por substâncias não voláteis. Nesse sentido, a substância que mais contribui para o amargor da cerveja são os iso-alfa-ácidos.  

A dosagem de lúpulo, portanto, deve ser ajustada conforme o perfil desejado da cerveja. Tanto o aroma quanto o amargor devem se adequar ao perfil desejado da cerveja. Para tal, devem ser levados em consideração a variedade do lúpulo, a forma de apresentação do lúpulo, quantidade a ser adicionada, tempo de fervura, sistema de fervura, tempo de repouso no whirpool e temperatura, reutilização de trub quente, extrato original, grau de atenuação, qualidade da separação do trub quente e trub frio, e perfil do consumidor dentre outros.

De acordo com a lei de pureza alemã, apenas produtos convencionais de lúpulo podem ser adicionados ao mosto. Ou seja, seguir à risca a lei de pureza limita a adição de lúpulo ao uso de cones, plugs, pellets e extratos. Vale lembrar que a utilização de cones ou plugs gera a necessidade de um filtro adicional, para permitir a remoção das partes insolúveis do lúpulo. No caso dos pellets, esta parcela insolúvel decantam, e podem ser eliminadas com o processo de whirpool. Vale lembrar que se se este processo for realizado de maneira ineficiente e parte do trub quente seja arrastado para a fermentação, poderá ser percebido na cerveja um sabor adstringente, além de problemas na fermentação.

Com relação a cervejas produzidas fora da lei de pureza alemã, há uma variedade maior de produtos, que passaram por etapas adicionais de processamento.

Por um lado, produtos isomerizados de lúpulo podem ser adicionados ao mosto quente. Por outro lado, a adição pode ser realizada antes da filtração da cerveja. No segundo caso, ficam conhecidos como produtos downstream. Extratos isomerizados são utilizados para corrigir o amargor da cerveja. Extratos isomerizados hidrogenados apresentam como efeito adicional o aumento da estabilidade da espuma, e protegem a cerveja da luz. Uma vez que a isomerização dos lúpulos ocorre a temperaturas elevadas, pode ser notada influência sobre o aroma e flavor da cerveja. No caso dos extratos isomerizados hidrogenados, a intensidade do amargor dos tetrahidroiso-alfa-ácidos varia de 1 a 1,7 vezes a mais do que a mesma quantidade de iso-alfa-ácidos na cerveja. Este valor varia conforme o estilo da cerveja. O excesso deste produto hidrogenado, conduz a saturação do amargor e melhoria na estabilidade da espuma.

Há diversas razões para realizar a adição de lúpulos em diversas etapas do processo. Ao ser dosado mais próximo do final do processo, maior quantidade de características do lúpulo pode ser notada no produto final. Por outro lado, a adição dos produtos na fervura, assegura, por exemplo, teores mais baixos de aromas indesejados dos lúpulos de amargor, como o mirceno, por exemplo.

A utilização de produtos isomerizados se dá em maior parte por razões econômicas, do que por questões qualitativas.

Lúpulos de amargor devem ser adicionados no início da fervura para atingir o grau de isomerização desejado, e a volatilização de aromas indesejadas. Além disso, sugere-se que a adição seja feita após 15 minutos, pois nesse tempo, um determinado valor de pH é atingido, fazendo com que proteínas se precipitem. Caso a adição do lúpulo seja realizada antes da ocorrência deste fenômeno, o atingimento do amargor desejado fica comprometido. Desse modo, maior dosagem de lúpulo de aroma em relação a dosagem de lúpulos de amargor faz com que a cerveja apresente um amargor mais suave e harmonioso.

A adição do lúpulo no início da fervura é tem por objetivo aumentar o rendimento da extração das resinas. No caso dos lúpulos de aroma, quando estes são adicionados na primeira metade da fervura conferem amargor mais suave.

Para a produção de stouts e cervejas mais pesadas, sugere-se a adição de maiores quantidades de lúpulo com o objetivo de neutralizar o doce e as características maltadas. No entanto, sugere-se um equilíbrio entre o teor alcoólico, extrato residual e amargor para melhorar a experiência sensorial do consumidor.

A utilização de pellets pré-isomerizados pode ser utilizada também como alternativa para aumentar o rendimento da extração das resinas, elevar os teores de iso-alfa-ácidos e a estabilidade microbiológica.  Extratos isomerizados são utilizados para correção de amargor.

Quanto mais tarde a dosagem for feita, menos agentes flavorizantes são volatilizados, e maior quantidade destas substâncias pode ser notada na cerveja. A redução do tempo de fervura preserva o máximo de óleos essenciais presentes no lúpulo. Esta pratica garante a máxima transferência dos aromas oriundos do lúpulo para a cerveja.  A adição de lúpulos de aroma para a obtenção de cervejas com aroma de lúpulo acentuado devem ser realizadas, portanto, após o fim da fervura, no whirpool ou em etapas posteriores. Neste contexto é que se insere a técnica do Dry Hopping.

Dry hopping é a adição de lúpulo em qualquer uma de suas formas após a fermentação primária da cerveja, com o objetivo de melhorar o aroma. Pela sua compactação, os plugs são melhor opção para dry hopping do que as flores. Entretanto, os pellets são a melhor opção pelo fato da sua compactação e o também pelo fato das glândulas de lupulina, de maneira geral, não estarem mais integras, facilitando a liberação dos óleos essenciais na cerveja.

A depender da variedade do lúpulo, diferentes aromas poderão ser percebidos na cerveja. Além disso, óleos essenciais de lúpulo podem ser utilizados para correção de aroma.

A adição de produtos downstream pode ser realizada também após a filtração da cerveja. Esta medida gera aumento do rendimento, ou seja, menos do produto pode ser utilizado para obtenção dos níveis desejados. Em contrapartida, o risco de de turvação aumenta.

A solubilidade dos produtos de lúpulo depende significativamente do pH e da temperatura. Quanto maior o grau de hidratação dos isso-alfa-ácidos, maior a estabilidade da espuma, e a adesão ao copo, formando o colarinho. A solubilidade diminui a medida em que a cerveja se deteriora.

Seguindo a lei de pureza alemã, a adição de extratos de lúpulo contendo alfa-ácidos não isomerizados pode ser utilizada como ferramenta para melhorar a estabilidade da espuma, ainda que estes sejam pouco solúveis, por volta de 2mg/l. Fora da lei de pureza, podem ser adicionados de 3-5mg/l de tetrahidro-alfa-ácidos, com o mesmo objetivo. No entanto, seu excesso afeta a experiência do consumidor na percepção do amargor e gera uma formação não típica e usual da espuma.

Lúpulos elevam a estabilidade microbiológica da cerveja.  Alfa-acidos não isomerizados possuem efeito antimicrobiano de 3 a 4 vezes maior do que os isso-alfa-acidos. Este efeito bacteriostático é observado em microorganismos das espécies Lactobacillus e Pediococcus. A adição de lúpulo após a fervura é uma prática que permite elevar o teor destas substâncias na cerveja.

Levando em consideração sua contribuição para a estabilidade microbiológica, em escala crescente, as resinas são organizada da seguinte forma: Iso-alfa-ácidos, tetrahidroiso-alfa-acidos e por último os alfa-ácidos.

Durante a produção de cervejas ácidas (Sourbeer, em inglês, ou Sauerbier, em alemão) a partir da acidificação biológica, deve ser levado em consideração que os  Lactobacillus amylolyticus, os microorganismos que desempenham esta função, não possuem tolerância as resinas do lúpulo. No caso deste tipo de produção, sugere-se que seja reutilizado o trub quente, ou baixa dosagem de lúpulo, ou que adições posteriores sejam realizadas após a fermentação.

Os seguintes critérios são cruciais para a obtenção dos melhores rendimentos de extração dos componentes do lúpulo. A extração das resinas, compostos de aroma e polifenóis dependem, basicamente, da variedade do lúpulo, do tipo de produto, da dosagem, do extrato original, da intensidade da fervura do mosto, do sistema utilizado, do pH do mosto, do tempo do lúpulo no mosto, da separação do trub quente e do trub frio, da reutilização do trub, das características da levedura, da temperatura de fermentação, do formato do fermentador e do tipo de filtração e estabilização.

Além disso, há uma técnica chamada First Wort Hopping, que consiste na adição do lúpulo, na primeira fração de mosto coletada após a clarificação. O valor mais alto de pH neste momento, em contraposição ao valor de pH da fervura, apresenta efeito positivo sobre a isomerização dos alfa-ácidos, embora haja perdas com a precipitação de proteínas na fervura, formando o trub. Esta técnica é utilizada com o intuito de conferir aroma mais refinado a cerveja, desse modo, sugere-se a utilização de lúpulos com baixo teor de alfa-ácidos.

Além das técnicas aqui abordadas existem inúmeras outras. E até mesmo as que existem estão sendo reinventadas. Talvez o único fator limitante seja a criatividade. 

Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

11. Hallertauer Hopfakranzfest - 11. Festa de colheita do lúpulo de Hallertau

Olá pessoal,

O texto de hoje tem um perfil completamente diferente. Vim compartilhar com vocês a experiência que tive no meu primeiro final de semana aqui em Freising, na Baviera (ALE).
Todos os estandes estavam decorados com várias ramas de lúpulo.
 O fim da colheita do lúpulo é celebrado com uma grande festa para o "ouro verde" de Hallertau, e pela primeira vez o festival foi realizado na cidade de Freising. O nome da festa, na verdade, faz menção as coroas de lúpulo que são confeccionadas e comercializadas nesta época. 

Naturalmente, o evento contou com a presença dos produtores, que confeccionavam e comercializavam as tradicionais coroas de lúpulo e até mesmo ramas separadas, como essa que eu trouxe para casa. 

Alguém se arrisca a acertar que variedade é essa?

Além disso, o mercado oferecia produtos regionais como arranjos feitos na hora com as ramas de lúpulo, peças de cerâmica, jóias, destilados e muitas outras coisas.

Aquele presente para a sua parceira cervejeira...
 E é claro cervejas regionais, como a Weihenstephaner, e a Hofbrauhaus Freising.

"Rapaz, pense num bicho feliz..."

 Além disso, haviam estandes de bebidas premiadas no concurso de inovação da Universidade técnica de Munique, como a Babo Blue, uma bebida mista a partir de cerveja, de cor azul, e a Isar Kindl, que produz estilos tradicionais com uma nova interpretação. 

Cerveja artesanal, pra não perder o hábito!
Por exemplo, a Isar Kindl Schmankerl, que é uma cerveja que combina estilos de vários estilos de cerveja. A inspiração principal foi uma Märzen, que se pode perceber na cor e no "drinkability". Notas carameladas de uma viena, e aromas florais de lúpulo, como numa Pils bávara. E claro, seguindo a lei de pureza, numa garrafa que seria a irmão menor do antigo padrão bávaro de garrafas. 

 Havia possibilidades diversas em torno do lúpulo. Aqui não se falava do lúpulo como matéria prima exclusiva para a produção de cerveja, mas também como uma planta de uso terapêutico. 

Nesse estande, você montava o seu travesseiro de lúpulo, para te ajudar a dormir melhor a noite.
 Mas claro, havia também quem abordasse o lado cervejeiro da coisa, como o estande da organização de turismo de lúpulo de hallertau, em que havia diferentes amostras de produtos de lúpulo. 


Extrato isomerizado; Extrato etanólico; Extrato isomerizado tetra-hidrogenado; Pellets tipo 90, Extrato isomerizado de alfa-ácidos na forma de sais de potássio, e; lúpulo in natura.
E, uma Weihenstephaner Helles (ou Original Bayrisch mild, se preferir) com a rama de lúpulo que eu trouxe pra casa! 

Saúde!

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Até a próxima! 



terça-feira, 20 de setembro de 2016

Variedades de lúpulos

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre lúpulo. Ele aborda alguns aspectos entre as diferentes variedades e perfis de lúpulo, e fatores que podem te ajudar na escolha.

De maneira geral, a maior distinção feita é entre produtos utilizados para conferir amargor e aroma. Lúpulos aromáticos, possuem baixo teor de alfa-acidos, mas, em contrapartida, teores mais elevados de óleos essenciais. Os lúpulos de amargor, por sua vez, apresentam teores mais elevados de alfa-ácidos, e teores menores de óleos essenciais. Atualmente, os lúpulos são agrupados em 3 categorias: os lúpulos de amargor; de aroma e; de uso duplo, no caso, tanto para amargor quanto para aroma.

As diferentes regiões produtoras de lúpulo são responsáveis por tantas variedades pois cada uma delas apresenta teores específicos de substâncias amargas, resinas, óleos essenciais. Mesmo assim, há diferenças tão sutis entre algumas delas que nem mesmo um perito na área é capaz de reconhecê-las na cerveja sem dificuldade.

As principais regiões produtoras de lúpulo localizam-se na Alemanha, Estados Unidos, República Tcheca, Austrália, Inglaterra e Canadá. Além destas regiões, há também polos na França, Polônia, Nova Zelândia, Eslovênia, Coréia do Norte, Bélgica, Ucrânia, África do Sul e Romênia.  Independentemente da região de origem, a maior parte dos lúpulos cultivados são variedades hibridas a partir de variedades selvagens, desenvolvidas com o objetivo de aumentar os rendimentos ou resistência a doenças.  Vale ressaltar que os lúpulos americanos costumam ser mais baratos não pelo fato de serem de qualidade inferior, mas sim pelo fato dos lúpulos americanos apresentarem crescimento mais consistente.

Lúpulos com elevado teor de alfa-ácidos são indicados para serem utilizados como lúpulos de amargor, isto é, responsáveis por adicionar sabor amargo a cerveja. Existem variedades de Lúpulos conhecidas como “super alfa”, que contem, no mínimo 16% de alfa-ácidos.

Lúpulos com elevado teor de óleos essenciais são recomendados para uso como lúpulos de aroma, podendo ser adicionados na fervura, ou ao se fazer o dry hopping. Na europa, principalmente na Alemanha e republica tcheca, as variedades de lúpulo vem sendo propagadas visando a obtenção de variedades com características destacadas de aroma, em detrimento de variedades com elevado teor de alfa-acidos.

Cabe destacar que lúpulos de aroma devem ser adicionados, preferencialmente no final da fervura, pois os óleos que delegam aroma a cerveja, são voláteis, ou, em termos práticos, se perdem.

Lúpulos são sensíveis a oxidação e alterações químicas de seus componentes. O potencial de amargor, portanto, é reduzido quando o produto é armazenado em condições fora das ideais, em função da oxidação dos alfa-ácidos.

Com o passar do tempo, o aroma do lúpulo vai se aproximando de algo que remete ao odor de queijo parmesão. Este aroma é mais fácil de perceber, especialmente em cones de lúpulo, plugs e em pellets. Por conta disso, o lúpulo deve ser armazenado ao abrigo da luz, a baixas temperaturas e longe de influencias externas como agua, ou fontes de odores. Os alfa-ácidos oxidam na presença de oxigênio e isomerizam sob atmosfera modificada. Este fenômeno explica a perda de alfa-acidos ao longo do armazenamento. Resinas duras são compostos que já estão presentes no lúpulo antes de seu processamento. Alem disso, produtos de oxidação das lupulonas podem ter suas quantidades aumentadas na presença de oxigênio. Desse modo, a armazenagem do lúpulo a frio é necessária. Extratos de resinas puras são considerados mais estáveis que as umbelas, ou pellets.

Com relação a escolha do lúpulo, vale atentar para alguns pontos.  A época do ano, permite ter uma noção da idade do lúpulo. Sobre este aspecto deve ser considerado que a colheita é realizada do final de agosto até a metade de setembro.  O primeiro indicador do frescor do lúpulo, consiste em sua cor. Lúpulos em flor, plugs, tem, na maior parte das vezes, coloração verde. Lúpulos em pellets apresentam tons escuros de verde, apesar de algumas variedades como Goldings apresentarem um tom mais alaranjado e aspecto brilhante, em função das resinas de lúpulo secas. Lúpulos que apresentem coloração amarronzada, seco ou ondulado estão, provavelmente, velhos. Se as glândulas de lupulina estiverem laranja, ao invés de amarelas, significa os lúpulos estão oxidados.

O aroma dos lúpulos também deve ser conferido pois estando frescos, possuem aromas florais, herbais, cítricos, ou que remetem a pinho, por exemplo. Caso seja identificado algum aroma pungente ou algo que remeta a queijo, é provável que o lúpulo esteja velho e oxidado. Qualquer desvio de aroma evidente, seguramente irá se manifestar na sua cerveja.

O teor de alfa-acidos é também um aspecto importante que deve ser levado em conta sobre a escolha dos lúpulos. Estas substâncias, após o processo de isomerização, serão convertidas em iso-alfa-ácidos, e delegarão amargor a cerveja. Dessa maneira, a diferença de teor destes ácidos deve ser levado em consideração. Vale ressaltar que os teores destas substâncias variam de safra para safra.

A escolha do lúpulo adequado é bastante subjetiva. Apesar disso, melhores resultados podem ser obtidos, se consideradas as informações apresentadas num laudo de Lúpulo, como o laudo abaixo. 

Laudo do lúpulo Hallertauer Tradition fornecido pelo Barth Haas Group. - Vale lembrar que estas características variam em função do ano da colheita, local de produção, produtor e idade. 
A depender do fornecedor outras informações podem ser encontradas como, a intensidades dos aromas que se destacam naquela variedade, como no exemplo abaixo.


Parte do laudo do lúpulo Hallertauer Tradition fornecido pela Hopsteiner

É interessante destacar que os aromas associados ao lúpulo dependem de alguma experiência prévia com os aromas a eles associados. Por exemplo, se você nunca tiver tido contato com o aroma de lavanda, dificilmente será capaz de reconhecer este aroma num lúpulo. Desse modo, as percepções sobre o aroma fornecido pelo lúpulo podem variar conforme a "bagagem" de aromas do degustador. 

Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

Alguns links interessantes sobre características de lúpulos:
Hopsteiner - Disponível em Inglês e alemão
HVG  - Disponível em inglês, alemão e espanhol

Barth Haas - Disponível em inglês e alemão

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Óleos de lúpulo

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre Lúpulo. Ele está bem curto, mas só para mostrar que com pouco, é possível fazer algo interessante.

De modo a atingir o aroma de lúpulo desejado, é possível também recorrer a utilização de óleos de lúpulo, ou do óleo essencial desejado. Os métodos para alterar o aroma da cerveja vão desde a redução da temperatura no Whirpool, ou a dosagem de lúpulos em etapas após a fermentação.




Embora estes óleos sejam extremamente concentrados, eles também são extremamente caros. Óleos blendados e padronizados de diversas maneiras estão disponíveis comercialmente.

A adição de óleos de lúpulo na tina de fervura resultará em baixas extrações; a adição antes da fermentação resultará em óleos com características diferentes em função da reação dos compostos voláteis durante a fermentação e do metabolismo da levedura.

A adição de óleo de lúpulo na fervura irá requerer uma dosagem na faixa de 1 a 5g/hl; já a adição antes da fermentação exigirá de 0,5 a 2g/hl, enquanto que na adição antes da filtração a quantidade a ser adicionada será 0,05 a 0,3g/hl, dependendo da intensidade do aroma desejado e do tipo da cerveja.

Os óleos do lúpulo podem ser divididos na fração apolar, que responde por 40 a 80% e a fração polar, contendo compostos oxigenados e os sulfurosos. A fração apolar é comportas por hidrocarbonetes, sendo a maior parte deles os terpenos, subdivididos em monoterpenos, a exemplo do linalol, mirceno e geraniol; monoterpenos monocíclicos e biciclicos, como o limoneno e o beta-pineno, e; sesquiterpenos, como o humuleno e o cariofileno. 

Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009