quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Visita a Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan

Olá pessoal,

No texto de hoje vim compartilhar a experiência que tive ao visitar a cervejaria mais antiga do mundo, ainda em operação, a famosa Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan, que produz as Weihenstephaner.



A cervejaria é uma empresa estatal, controlada majoritariamente pelo governo do estado da Baviera, e fica localizada na montanha de Weihenstephan, no bairro homônimo, na cidade de Freising.

A cervejaria está em operação desde 1040, quando ainda era um mosteiro beneditino, com direito de produção e serviço de cerveja. No entanto, vale ressaltar que já antes dessa época, os monges já produziam cerveja, e que já por volta do século 8, o lúpulo já era cultivado ao redor do mosteiro.

Os monges já produziam cervejas diferentes para diferentes grupos, de modo que a peregrinos, mendigos e serventes era oferecido uma cerveja mais "aguada". Aos artesãos era oferecida uma variação mais forte, enquanto que aos abades e outras autoridades religiosas era oferecida uma versão com maior "drinkability.

Com secularização do estado em 1803, o mosteiro chegou ao fim e todos as posses e direitos foram transferidos para o Estado bávaro. Em 1803 a cervejaria do mosteiro foi rebatizada para cervejaria estatal do reino da Baviera e nesse momento, pode utilizar o brasão do reino como marca.

A antiga cervejaria estatal do reino da baviera, desde 1921 se chama Cervejaria estatal bávara Weihenstephan, e utiliza o brasão estadual com 2 leões como marca.


Obviamente, a cervejaria mais antiga do mundo se modernizou com o passar do tempo, e hoje é uma das mais modernas. Nos ultimos anos, a adega foi ampliada, com novos tanques de fermentação e tanques de maturação, e às instalações da brassagem a filtração foram trazidas as tecnologias mais modernas.

Pertencente ao grupo KRONES AG

Nos silos que pude observar, de malte de trigo, cevada, e malte munique, todos apresentavam simbolo kosher.

Malte de trigo Kosher
Na sala de brassagem, foram passados alguns dados interessantes como a dureza da água, porcentagem de malte de trigo, e alguns dados associados a rendimento.

Tina de brassagem, com capacidade de 300hL.

Alguns dados tecnicos sobre a brassagem.
( Tina de fervura a vapor; e Moagem, mostura, clarificação e refriamento do mosto completamente automatizados)

Porcentagem de trigo utilizada em uma das receitas.
Dureza da água, em grau alemão
(Tal valor é indicado para cervejas escuras, de modo que para cervejas claras é necessária uma correção)
Em seguida, fomos para adega de tanques horizontais, que conferem a cerveja um flavor mais esterificado, justamente como desejado nas cervejas de trigo. 

Tanques de aprox. 1000hL
Algumas especificações do tanque:
N. 660
Ano 1996
Pressão de serviço: 0.9 bar
Temperatura máxima de serviço: 20°C
Volume: 99251L
Resfriamento: GlicoL
Pressão de serviço: 0.9 bar
Conteúdo zona 1: 466L
Conteúdo zona 2: 466L



Após visitar os a área dos tanques de fermentação passamos pelos tanques de propagação de levedura, que são reutilizadas 6vezes. Um número interessante, se levado em conta que as cervejas de massa da ambev reutilizam levedura em torno de 4 vezes, e associado a isso os extratos originais das cervejas produzidas aqui.

Tanques de propagação


 Depois de passar pelos tanques de propagação, fomos para a área onde ficam os tanques de maturação, onde a Helles, por exemplo, repousa por 2 semanas.

Cones dos tanques de maturação

Em 2014, o envase, que é restrito a visitação, foi ampliado e desde então conta com capacidade de 36mil garrafas/ hora.
Apenas uma miniatura

Se quiser acompanhar em tempo real algumas das experiências por aqui, me siga lá no Instagram.

Até a próxima!






Bônus!
O restaurante da cervejaria é conhecido também como auditório 13 -  e inclusive a uma placa lá -  já que muitas as aulas no semestre de verão costumam terminar por lá e é onde alguns professores costumam ser vistos por frequência.

Na minha primeira visita, tive a oportunidade de conhecer a Pale Ale sasonal da Weihenstephan. E o caso dela me chamou a atenção por ser somente comercializada no restaurante, já que ela não está de acordo com a lei da pureza. 


A pergunta que eu deixo pra você é: Por quê? 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O que é realmente a lei de pureza alemã?


Olá pessoal,

O texto de hoje é um pouco diferente dos quais venho escrevendo. Mas já que estou na Alemanha, e a lei de pureza é o rege o mercado cervejeiro por aqui... Opa! É isso mesmo?

Nesse texto, trago uma reportagem bem interessante que li recentemente sobre alguns mitos e boatos sobre a lei de pureza alemã. O texto original é em Alemão, mas eu traduzi aqui na integra pra vocês. Espero que seja enriquecedor!  Boa leitura!


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Cálculo de IBU

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre lúpulo. Ele apresenta as contas feitas para o cálculo de IBU da sua cerveja. 


O amargor da cerveja é medido em unidades de amargor internacional, ou IBU (do inglês internacional bitter units). O valor de IBU está relacionado diretamente a quantidade de iso-alfa-ácidos, em miligramas, dissolvidas em 1 litro de cerveja. Desse modo, uma cerveja que tem 30 IBU, possui 30mg de iso-alfa-ácidos em cada litro. 

Para estimar a quantidade correta de lúpulo a ser utilizada a fim da obtenção do amargor desejado, é preciso saber o teor de alfa-ácidos do lúpulo, a taxa de extração dos alfa-ácidos presentes no lúpulo, e o volume de cerveja ao final da fervura, ou volume de apronte. 

Tanto o teor de alfa-ácidos do lúpulo, quanto a taxa de extração estão suscetíveis a grandes variações. O teor de alfa-ácidos no lúpulo sofre decaimento com o tempo, e também em função de condições de armazenamento indesejada, e da forma de apresentação do lúpulo, e a maneira através da qual foi embalado. Ou seja, em termos práticos, quanto mais velho o lúpulo, maiores as chances de haver uma incongruência entre o teor real e o teor apresentado no rótulo. 

A taxa de extração de alfa-ácidos é o valor associado a quantidade desta substância que se espera encontrar no mosto após a fervura, e continuará presente no produto final, já que haverá perdas na faixa de 10-20% dos alfa-ácidos isomerizados. Uma vez que a temperatura é essencial para o processo de isomerização dos alfa-ácidos em iso-alfa-acidos, a taxa de extração varia conforme o tempo de fervura. 

Além do tempo de fervura, outros fatores que influenciam na taxa de extração são o vigor e a temperatura de fervura - a fervura em alta altitudes e consequente temperatura de fervura mais baixa resultaria em taxas de extração mais baixas, bem como a realização de fervuras em camaras pressurizadas aumentaria este valor; a forma de apresentação do lúpulo - já que pellets, por exemplo, apresentam maior superficie de contato do que as umbelas, por exemplo; o extrato do mosto; e o pH mais alto.

Apenas para que se possa compreender a aplicação da fórmula de cálculo do IBU desejado, segue-se uma situação problema. (Obviamente, a aplicação da fórmula possibilita diversas possibilidades, como por exemplo adições múltiplas de lúpulo, ou até mesmo para correções de amargor.)

Qual a quantidade de lúpulo, em pellets contendo 11% de alfa-ácidos, a ser adicionada num volume de apronte de 100 litros, com 12,5°P para a obtenção de 23 IBU?   Considerando que o tempo total de fervura será de 60 minutos, e o lúpulo será adicionado após 15 minutos do início da fervura, ou seja, 45 minutos de fervura do lúpulo.


Rendimento do lúpulo de acordo com o tempo de fervura e concentração do mosto
Tabela de conversão de iso- ácido em amargor (Tabela de Klopper) *
1.Quantidade de lúpulo.
25% de rendimento da extração do lúpulo que acontece com 45 mins de fervura do lúpulo em mosto contendo 12,5°P --- 20 mg/L (Quantidade de iso-alfa-ácidos correspondente a 23 IBU) 
100% de rendimento da extração do lúpulo (valor ideal - não acontece de fato) --- X = 80 mg/L

2. Quantidade alfa-ácidos a dosar.
80mg/l (Quantidade de alfa-ácidos necessária) x 100 l (Volume de apronte) = Y = 8000mg de alfa-ácidos = 8g de alfa-ácidos.

3. Quantidade de pellets
11g de alfa-ácidos (Teor de alfa-ácidos do pellet utilizado, em porcentagem- presente no rótulo) ---100g de lúpulo 
8g de alfa-ácidos --- Z = aprox 73g de pellets.

Vale lembrar que estes cálculos conduzem a uma estimativa aproximada dos valores de IBU. Uma medida precisa somente pode ser obtida a partir da análise a partir de métodos laboratoriais.


Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:

Livro
Título - Autor - Ano
Handbook of basic brewing calculations, - S. R. Holle - 2007


* Acima de 25IBU, a razão entre a concentração de iso-alfa-ácidos e o IBU passam a ser de 1:1. Ou seja, 30 IBU, por exemplo, corresponde a 30mg/l de iso-alfa-ácidos.