terça-feira, 27 de setembro de 2016

Técnicas de adição de lúpulo

Olá pessoal,

Hoje o texto é sobre lúpulo. Ele abordará algumas das variadas formas de utilizar o lúpulo na produção da sua cerveja. Obviamente existem inúmeras formas, e seria razoavelmente difícil de abordar todas elas num texto. Aqui, você verá alguns aspectos técnicos relacionados a algumas das muitas técnicas de adição de lúpulo.

Os principais objetivos para a adição do lúpulo na cerveja são a alteração do paladar e do aroma. O aroma é influenciado pelos óleos contidos no lúpulo. Estes óleos voláteis são responsáveis pelo típico aroma de lúpulo presente na cerveja. O sabor da cerveja, por sua vez, é determinado por substâncias não voláteis. Nesse sentido, a substância que mais contribui para o amargor da cerveja são os iso-alfa-ácidos.  

A dosagem de lúpulo, portanto, deve ser ajustada conforme o perfil desejado da cerveja. Tanto o aroma quanto o amargor devem se adequar ao perfil desejado da cerveja. Para tal, devem ser levados em consideração a variedade do lúpulo, a forma de apresentação do lúpulo, quantidade a ser adicionada, tempo de fervura, sistema de fervura, tempo de repouso no whirpool e temperatura, reutilização de trub quente, extrato original, grau de atenuação, qualidade da separação do trub quente e trub frio, e perfil do consumidor dentre outros.

De acordo com a lei de pureza alemã, apenas produtos convencionais de lúpulo podem ser adicionados ao mosto. Ou seja, seguir à risca a lei de pureza limita a adição de lúpulo ao uso de cones, plugs, pellets e extratos. Vale lembrar que a utilização de cones ou plugs gera a necessidade de um filtro adicional, para permitir a remoção das partes insolúveis do lúpulo. No caso dos pellets, esta parcela insolúvel decantam, e podem ser eliminadas com o processo de whirpool. Vale lembrar que se se este processo for realizado de maneira ineficiente e parte do trub quente seja arrastado para a fermentação, poderá ser percebido na cerveja um sabor adstringente, além de problemas na fermentação.

Com relação a cervejas produzidas fora da lei de pureza alemã, há uma variedade maior de produtos, que passaram por etapas adicionais de processamento.

Por um lado, produtos isomerizados de lúpulo podem ser adicionados ao mosto quente. Por outro lado, a adição pode ser realizada antes da filtração da cerveja. No segundo caso, ficam conhecidos como produtos downstream. Extratos isomerizados são utilizados para corrigir o amargor da cerveja. Extratos isomerizados hidrogenados apresentam como efeito adicional o aumento da estabilidade da espuma, e protegem a cerveja da luz. Uma vez que a isomerização dos lúpulos ocorre a temperaturas elevadas, pode ser notada influência sobre o aroma e flavor da cerveja. No caso dos extratos isomerizados hidrogenados, a intensidade do amargor dos tetrahidroiso-alfa-ácidos varia de 1 a 1,7 vezes a mais do que a mesma quantidade de iso-alfa-ácidos na cerveja. Este valor varia conforme o estilo da cerveja. O excesso deste produto hidrogenado, conduz a saturação do amargor e melhoria na estabilidade da espuma.

Há diversas razões para realizar a adição de lúpulos em diversas etapas do processo. Ao ser dosado mais próximo do final do processo, maior quantidade de características do lúpulo pode ser notada no produto final. Por outro lado, a adição dos produtos na fervura, assegura, por exemplo, teores mais baixos de aromas indesejados dos lúpulos de amargor, como o mirceno, por exemplo.

A utilização de produtos isomerizados se dá em maior parte por razões econômicas, do que por questões qualitativas.

Lúpulos de amargor devem ser adicionados no início da fervura para atingir o grau de isomerização desejado, e a volatilização de aromas indesejadas. Além disso, sugere-se que a adição seja feita após 15 minutos, pois nesse tempo, um determinado valor de pH é atingido, fazendo com que proteínas se precipitem. Caso a adição do lúpulo seja realizada antes da ocorrência deste fenômeno, o atingimento do amargor desejado fica comprometido. Desse modo, maior dosagem de lúpulo de aroma em relação a dosagem de lúpulos de amargor faz com que a cerveja apresente um amargor mais suave e harmonioso.

A adição do lúpulo no início da fervura é tem por objetivo aumentar o rendimento da extração das resinas. No caso dos lúpulos de aroma, quando estes são adicionados na primeira metade da fervura conferem amargor mais suave.

Para a produção de stouts e cervejas mais pesadas, sugere-se a adição de maiores quantidades de lúpulo com o objetivo de neutralizar o doce e as características maltadas. No entanto, sugere-se um equilíbrio entre o teor alcoólico, extrato residual e amargor para melhorar a experiência sensorial do consumidor.

A utilização de pellets pré-isomerizados pode ser utilizada também como alternativa para aumentar o rendimento da extração das resinas, elevar os teores de iso-alfa-ácidos e a estabilidade microbiológica.  Extratos isomerizados são utilizados para correção de amargor.

Quanto mais tarde a dosagem for feita, menos agentes flavorizantes são volatilizados, e maior quantidade destas substâncias pode ser notada na cerveja. A redução do tempo de fervura preserva o máximo de óleos essenciais presentes no lúpulo. Esta pratica garante a máxima transferência dos aromas oriundos do lúpulo para a cerveja.  A adição de lúpulos de aroma para a obtenção de cervejas com aroma de lúpulo acentuado devem ser realizadas, portanto, após o fim da fervura, no whirpool ou em etapas posteriores. Neste contexto é que se insere a técnica do Dry Hopping.

Dry hopping é a adição de lúpulo em qualquer uma de suas formas após a fermentação primária da cerveja, com o objetivo de melhorar o aroma. Pela sua compactação, os plugs são melhor opção para dry hopping do que as flores. Entretanto, os pellets são a melhor opção pelo fato da sua compactação e o também pelo fato das glândulas de lupulina, de maneira geral, não estarem mais integras, facilitando a liberação dos óleos essenciais na cerveja.

A depender da variedade do lúpulo, diferentes aromas poderão ser percebidos na cerveja. Além disso, óleos essenciais de lúpulo podem ser utilizados para correção de aroma.

A adição de produtos downstream pode ser realizada também após a filtração da cerveja. Esta medida gera aumento do rendimento, ou seja, menos do produto pode ser utilizado para obtenção dos níveis desejados. Em contrapartida, o risco de de turvação aumenta.

A solubilidade dos produtos de lúpulo depende significativamente do pH e da temperatura. Quanto maior o grau de hidratação dos isso-alfa-ácidos, maior a estabilidade da espuma, e a adesão ao copo, formando o colarinho. A solubilidade diminui a medida em que a cerveja se deteriora.

Seguindo a lei de pureza alemã, a adição de extratos de lúpulo contendo alfa-ácidos não isomerizados pode ser utilizada como ferramenta para melhorar a estabilidade da espuma, ainda que estes sejam pouco solúveis, por volta de 2mg/l. Fora da lei de pureza, podem ser adicionados de 3-5mg/l de tetrahidro-alfa-ácidos, com o mesmo objetivo. No entanto, seu excesso afeta a experiência do consumidor na percepção do amargor e gera uma formação não típica e usual da espuma.

Lúpulos elevam a estabilidade microbiológica da cerveja.  Alfa-acidos não isomerizados possuem efeito antimicrobiano de 3 a 4 vezes maior do que os isso-alfa-acidos. Este efeito bacteriostático é observado em microorganismos das espécies Lactobacillus e Pediococcus. A adição de lúpulo após a fervura é uma prática que permite elevar o teor destas substâncias na cerveja.

Levando em consideração sua contribuição para a estabilidade microbiológica, em escala crescente, as resinas são organizada da seguinte forma: Iso-alfa-ácidos, tetrahidroiso-alfa-acidos e por último os alfa-ácidos.

Durante a produção de cervejas ácidas (Sourbeer, em inglês, ou Sauerbier, em alemão) a partir da acidificação biológica, deve ser levado em consideração que os  Lactobacillus amylolyticus, os microorganismos que desempenham esta função, não possuem tolerância as resinas do lúpulo. No caso deste tipo de produção, sugere-se que seja reutilizado o trub quente, ou baixa dosagem de lúpulo, ou que adições posteriores sejam realizadas após a fermentação.

Os seguintes critérios são cruciais para a obtenção dos melhores rendimentos de extração dos componentes do lúpulo. A extração das resinas, compostos de aroma e polifenóis dependem, basicamente, da variedade do lúpulo, do tipo de produto, da dosagem, do extrato original, da intensidade da fervura do mosto, do sistema utilizado, do pH do mosto, do tempo do lúpulo no mosto, da separação do trub quente e do trub frio, da reutilização do trub, das características da levedura, da temperatura de fermentação, do formato do fermentador e do tipo de filtração e estabilização.

Além disso, há uma técnica chamada First Wort Hopping, que consiste na adição do lúpulo, na primeira fração de mosto coletada após a clarificação. O valor mais alto de pH neste momento, em contraposição ao valor de pH da fervura, apresenta efeito positivo sobre a isomerização dos alfa-ácidos, embora haja perdas com a precipitação de proteínas na fervura, formando o trub. Esta técnica é utilizada com o intuito de conferir aroma mais refinado a cerveja, desse modo, sugere-se a utilização de lúpulos com baixo teor de alfa-ácidos.

Além das técnicas aqui abordadas existem inúmeras outras. E até mesmo as que existem estão sendo reinventadas. Talvez o único fator limitante seja a criatividade. 

Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

11. Hallertauer Hopfakranzfest - 11. Festa de colheita do lúpulo de Hallertau

Olá pessoal,

O texto de hoje tem um perfil completamente diferente. Vim compartilhar com vocês a experiência que tive no meu primeiro final de semana aqui em Freising, na Baviera (ALE).
Todos os estandes estavam decorados com várias ramas de lúpulo.
 O fim da colheita do lúpulo é celebrado com uma grande festa para o "ouro verde" de Hallertau, e pela primeira vez o festival foi realizado na cidade de Freising. O nome da festa, na verdade, faz menção as coroas de lúpulo que são confeccionadas e comercializadas nesta época. 

Naturalmente, o evento contou com a presença dos produtores, que confeccionavam e comercializavam as tradicionais coroas de lúpulo e até mesmo ramas separadas, como essa que eu trouxe para casa. 

Alguém se arrisca a acertar que variedade é essa?

Além disso, o mercado oferecia produtos regionais como arranjos feitos na hora com as ramas de lúpulo, peças de cerâmica, jóias, destilados e muitas outras coisas.

Aquele presente para a sua parceira cervejeira...
 E é claro cervejas regionais, como a Weihenstephaner, e a Hofbrauhaus Freising.

"Rapaz, pense num bicho feliz..."

 Além disso, haviam estandes de bebidas premiadas no concurso de inovação da Universidade técnica de Munique, como a Babo Blue, uma bebida mista a partir de cerveja, de cor azul, e a Isar Kindl, que produz estilos tradicionais com uma nova interpretação. 

Cerveja artesanal, pra não perder o hábito!
Por exemplo, a Isar Kindl Schmankerl, que é uma cerveja que combina estilos de vários estilos de cerveja. A inspiração principal foi uma Märzen, que se pode perceber na cor e no "drinkability". Notas carameladas de uma viena, e aromas florais de lúpulo, como numa Pils bávara. E claro, seguindo a lei de pureza, numa garrafa que seria a irmão menor do antigo padrão bávaro de garrafas. 

 Havia possibilidades diversas em torno do lúpulo. Aqui não se falava do lúpulo como matéria prima exclusiva para a produção de cerveja, mas também como uma planta de uso terapêutico. 

Nesse estande, você montava o seu travesseiro de lúpulo, para te ajudar a dormir melhor a noite.
 Mas claro, havia também quem abordasse o lado cervejeiro da coisa, como o estande da organização de turismo de lúpulo de hallertau, em que havia diferentes amostras de produtos de lúpulo. 


Extrato isomerizado; Extrato etanólico; Extrato isomerizado tetra-hidrogenado; Pellets tipo 90, Extrato isomerizado de alfa-ácidos na forma de sais de potássio, e; lúpulo in natura.
E, uma Weihenstephaner Helles (ou Original Bayrisch mild, se preferir) com a rama de lúpulo que eu trouxe pra casa! 

Saúde!

Se quiser acompanhar em tempo real algumas das experiências por aqui, me siga lá no Instagram.

Até a próxima! 



terça-feira, 20 de setembro de 2016

Variedades de lúpulos

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre lúpulo. Ele aborda alguns aspectos entre as diferentes variedades e perfis de lúpulo, e fatores que podem te ajudar na escolha.

De maneira geral, a maior distinção feita é entre produtos utilizados para conferir amargor e aroma. Lúpulos aromáticos, possuem baixo teor de alfa-acidos, mas, em contrapartida, teores mais elevados de óleos essenciais. Os lúpulos de amargor, por sua vez, apresentam teores mais elevados de alfa-ácidos, e teores menores de óleos essenciais. Atualmente, os lúpulos são agrupados em 3 categorias: os lúpulos de amargor; de aroma e; de uso duplo, no caso, tanto para amargor quanto para aroma.

As diferentes regiões produtoras de lúpulo são responsáveis por tantas variedades pois cada uma delas apresenta teores específicos de substâncias amargas, resinas, óleos essenciais. Mesmo assim, há diferenças tão sutis entre algumas delas que nem mesmo um perito na área é capaz de reconhecê-las na cerveja sem dificuldade.

As principais regiões produtoras de lúpulo localizam-se na Alemanha, Estados Unidos, República Tcheca, Austrália, Inglaterra e Canadá. Além destas regiões, há também polos na França, Polônia, Nova Zelândia, Eslovênia, Coréia do Norte, Bélgica, Ucrânia, África do Sul e Romênia.  Independentemente da região de origem, a maior parte dos lúpulos cultivados são variedades hibridas a partir de variedades selvagens, desenvolvidas com o objetivo de aumentar os rendimentos ou resistência a doenças.  Vale ressaltar que os lúpulos americanos costumam ser mais baratos não pelo fato de serem de qualidade inferior, mas sim pelo fato dos lúpulos americanos apresentarem crescimento mais consistente.

Lúpulos com elevado teor de alfa-ácidos são indicados para serem utilizados como lúpulos de amargor, isto é, responsáveis por adicionar sabor amargo a cerveja. Existem variedades de Lúpulos conhecidas como “super alfa”, que contem, no mínimo 16% de alfa-ácidos.

Lúpulos com elevado teor de óleos essenciais são recomendados para uso como lúpulos de aroma, podendo ser adicionados na fervura, ou ao se fazer o dry hopping. Na europa, principalmente na Alemanha e republica tcheca, as variedades de lúpulo vem sendo propagadas visando a obtenção de variedades com características destacadas de aroma, em detrimento de variedades com elevado teor de alfa-acidos.

Cabe destacar que lúpulos de aroma devem ser adicionados, preferencialmente no final da fervura, pois os óleos que delegam aroma a cerveja, são voláteis, ou, em termos práticos, se perdem.

Lúpulos são sensíveis a oxidação e alterações químicas de seus componentes. O potencial de amargor, portanto, é reduzido quando o produto é armazenado em condições fora das ideais, em função da oxidação dos alfa-ácidos.

Com o passar do tempo, o aroma do lúpulo vai se aproximando de algo que remete ao odor de queijo parmesão. Este aroma é mais fácil de perceber, especialmente em cones de lúpulo, plugs e em pellets. Por conta disso, o lúpulo deve ser armazenado ao abrigo da luz, a baixas temperaturas e longe de influencias externas como agua, ou fontes de odores. Os alfa-ácidos oxidam na presença de oxigênio e isomerizam sob atmosfera modificada. Este fenômeno explica a perda de alfa-acidos ao longo do armazenamento. Resinas duras são compostos que já estão presentes no lúpulo antes de seu processamento. Alem disso, produtos de oxidação das lupulonas podem ter suas quantidades aumentadas na presença de oxigênio. Desse modo, a armazenagem do lúpulo a frio é necessária. Extratos de resinas puras são considerados mais estáveis que as umbelas, ou pellets.

Com relação a escolha do lúpulo, vale atentar para alguns pontos.  A época do ano, permite ter uma noção da idade do lúpulo. Sobre este aspecto deve ser considerado que a colheita é realizada do final de agosto até a metade de setembro.  O primeiro indicador do frescor do lúpulo, consiste em sua cor. Lúpulos em flor, plugs, tem, na maior parte das vezes, coloração verde. Lúpulos em pellets apresentam tons escuros de verde, apesar de algumas variedades como Goldings apresentarem um tom mais alaranjado e aspecto brilhante, em função das resinas de lúpulo secas. Lúpulos que apresentem coloração amarronzada, seco ou ondulado estão, provavelmente, velhos. Se as glândulas de lupulina estiverem laranja, ao invés de amarelas, significa os lúpulos estão oxidados.

O aroma dos lúpulos também deve ser conferido pois estando frescos, possuem aromas florais, herbais, cítricos, ou que remetem a pinho, por exemplo. Caso seja identificado algum aroma pungente ou algo que remeta a queijo, é provável que o lúpulo esteja velho e oxidado. Qualquer desvio de aroma evidente, seguramente irá se manifestar na sua cerveja.

O teor de alfa-acidos é também um aspecto importante que deve ser levado em conta sobre a escolha dos lúpulos. Estas substâncias, após o processo de isomerização, serão convertidas em iso-alfa-ácidos, e delegarão amargor a cerveja. Dessa maneira, a diferença de teor destes ácidos deve ser levado em consideração. Vale ressaltar que os teores destas substâncias variam de safra para safra.

A escolha do lúpulo adequado é bastante subjetiva. Apesar disso, melhores resultados podem ser obtidos, se consideradas as informações apresentadas num laudo de Lúpulo, como o laudo abaixo. 

Laudo do lúpulo Hallertauer Tradition fornecido pelo Barth Haas Group. - Vale lembrar que estas características variam em função do ano da colheita, local de produção, produtor e idade. 
A depender do fornecedor outras informações podem ser encontradas como, a intensidades dos aromas que se destacam naquela variedade, como no exemplo abaixo.


Parte do laudo do lúpulo Hallertauer Tradition fornecido pela Hopsteiner

É interessante destacar que os aromas associados ao lúpulo dependem de alguma experiência prévia com os aromas a eles associados. Por exemplo, se você nunca tiver tido contato com o aroma de lavanda, dificilmente será capaz de reconhecer este aroma num lúpulo. Desse modo, as percepções sobre o aroma fornecido pelo lúpulo podem variar conforme a "bagagem" de aromas do degustador. 

Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

Alguns links interessantes sobre características de lúpulos:
Hopsteiner - Disponível em Inglês e alemão
HVG  - Disponível em inglês, alemão e espanhol

Barth Haas - Disponível em inglês e alemão

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Óleos de lúpulo

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre Lúpulo. Ele está bem curto, mas só para mostrar que com pouco, é possível fazer algo interessante.

De modo a atingir o aroma de lúpulo desejado, é possível também recorrer a utilização de óleos de lúpulo, ou do óleo essencial desejado. Os métodos para alterar o aroma da cerveja vão desde a redução da temperatura no Whirpool, ou a dosagem de lúpulos em etapas após a fermentação.




Embora estes óleos sejam extremamente concentrados, eles também são extremamente caros. Óleos blendados e padronizados de diversas maneiras estão disponíveis comercialmente.

A adição de óleos de lúpulo na tina de fervura resultará em baixas extrações; a adição antes da fermentação resultará em óleos com características diferentes em função da reação dos compostos voláteis durante a fermentação e do metabolismo da levedura.

A adição de óleo de lúpulo na fervura irá requerer uma dosagem na faixa de 1 a 5g/hl; já a adição antes da fermentação exigirá de 0,5 a 2g/hl, enquanto que na adição antes da filtração a quantidade a ser adicionada será 0,05 a 0,3g/hl, dependendo da intensidade do aroma desejado e do tipo da cerveja.

Os óleos do lúpulo podem ser divididos na fração apolar, que responde por 40 a 80% e a fração polar, contendo compostos oxigenados e os sulfurosos. A fração apolar é comportas por hidrocarbonetes, sendo a maior parte deles os terpenos, subdivididos em monoterpenos, a exemplo do linalol, mirceno e geraniol; monoterpenos monocíclicos e biciclicos, como o limoneno e o beta-pineno, e; sesquiterpenos, como o humuleno e o cariofileno. 

Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Os diferentes extratos de lúpulo

Olá Pessoal

O texto de hoje é sobre lúpulo. Ele aborda os diversos tipos de extrato de lúpulo existentes.  Você vai ver que do IKE ao LIKE, tem muito mais coisa do a adição de um "L". 

Desde a década de 60, existe a possibilidade da utilização de extratos de lúpulo, e hoje é estimado que algo em torno da metade da produção mundial seja utilizada sob a forma de extrato.  Um dos maiores problemas envolvendo a produção dos extratos são a perda de alguns componentes importantes através da volatilização ou rearranjo químico. O grau de perda é dependente, no entanto do solvente utilizado e do sistema de extração. Por conta das regulações mundiais mais rígidas, seguindo a tendência da não utilização de produtos que não sejam naturais no processamento de alimentos e bebidas, hoje os solventes mais utilizados são etanol e gás carbônico líquido.

Inicialmente o processo de extração era realizado por destilação a vapor, mas este processo afetava negativamente o sabor e houve queixas sobre resíduos químicos na cerveja. Mais recentemente, um novo processo foi desenvolvido, utilizando extração com gás carbônico. O uso de extrato, óleo ou essência é feito em quantidades pequenas. Pequenas quantidades são capazes de apresentar resultados significativos, principalmente pelo fato de sermos capazes de perceber substâncias em quantidades de partes por milhão.

Etanol dissolve uma grande variedade de componentes, enquanto que o gás carbônico é mais seletivo para resinas e componentes de aromas. O teor de alfa ácidos no extrato de CO2 varia de 35 a 55%, enquanto que o teor de beta-ácidos pode variar de 15 a 40%, e o teor de óleos essenciais de 3 a 12%, dependendo da variedade que foi utilizada como base. Ao passo que o teor de alfa ácidos do extrato etanólico varia de 20 a 50%, de 15 a 40% no caso dos beta-ácidos e, de 3 a 12% com relação aos óleos essenciais.


Através da melhoria do processo de vácuo no processo de extração, foi possível reduzir a temperatura e tornar possível o reaproveitamento dos óleos essenciais. Esse método tornou possível a existência de extratos livres de taninos.

O extrato de lúpulo é um líquido com elevada concentração dos componentes mais importantes do lúpulo. Há 3 variações dos extratos de lúpulo. Esta versão é conhecida como extratos convencionais ou IKE (Isomerized Kettle Extract), que são adicionados à fervura como seriam os cones ou pellets, possuindo os mesmos objetivos.  O IKE (Isomerized Kettle Extract) é produzido misturando e aquecendo o extrato das resinas com oxido de magnésio, de 3 a 6%. Após a isomerização os iso-alfa-ácidos se apresentam sob a forma de sais de magnésio. O magnésio é resolvido utilizando um ácido forte, deixando os iso-alfa-acidos em sua forma livre.


Há também os extratos isomerizados, derivados da extração com gás carbônico, em que a isomerização é realizada por aquecimento em meio alcalino, produzindo sais, geralmente de potássio, ou pela conversão em sais de cálcio e magnésio, e posterior aquecimento. No caso do processo envolvendo sais de potássio, os produtos são conhecidos como PIKE K+ (Do inglês Potassium form Isomerized Kettle Extract) e que por efeito similar ao dos pellets estabilizados, permitem tempos menores de fervura, e elevam a taxa de aproveitamento dos iso-alfa-ácidos.

O PIKE (Potassium form Isomerized Kettle Extract) é produzido aquecendo o extrato das resinas em contato com solução aquosa de carbonato de potássio. Como resultado, a taxa de conversão dos produtos é de 90 a 95%. A depender da condução do processo, os níveis de óleos do lpupulo podem ser baixos. O teor de alfa ácidos varia de 30 a 55%. Já o teor de beta-acidos varia entre 15 e 35%, e o teor de óleos fica entre 5 e 10%, sendo que estes valores dependem da variedade e das condições de extração.

Tendo em vista que os iso-alfa-ácidos e os seus equivalentes constituídos a partir dos beta-ácidos são bastante sensíveis a luz, a exposição da cerveja á luz, gera um defeito conhecido como “sunstruck” ou “lightstruck”. Este off-flavour é causado pela clivagem de parte da molécula do iso-alfa-ácido, por ação da luz, e reação do radical recém-formado com compostos contendo enxofre gerando 3-metil-2-buteno-1-tiol, ou MBT. O limite de percepção sensorial é da ordem de partes por trilhão, o que faz com que esta substância seja facilmente perceptível na cerveja.

Por conta disso, foram desenvolvidos extratos hidrogenados isomerizados de lúpulo, para combater esta sensibilidade a luz. Resumidamente, pares de hidrogênios atômicos são adicionados a molécula do iso-alfa-acido, resultando em dihidroiso-alfa-ácido, tetrahidroiso-alfa-ácido ou hexaidroiso-alfa-ácido. Estes extratos não são sensíveis a luz e apresentam efeito positivo sobre a estabilidade da espuma. Cervejas comercializadas em garrafas de vidro transparentes, por exemplo, contornam a falta de proteção do vidro, com a utilização destes extratos.

Os LIKE (Light stable Isomerized Kettle Extract) consistem em iso-alfa-acidos reduzidos, ou seja, hidrogenados além dos das resinas beta e óleos.  Uma vez que estes produtos são adicionados a cerveja pronta, eles devem apresentar alta pureza e estar livres de resinas insolúveis. Todos os produtos de amargor Downstream demandam atenção especial sobre o ponto de dosagem. Este deve estar próximo de uma area de fluxo turbulento e bem separadas, especialmente, da alimentação de gás carbônico para a carbonatação.


Estes extratos LIKE, contendo tetrahidro-iso-alfa-ácido ou hexahidro-iso-alfa-ácidos previnem a formação do 3MBT, que possui limiar de percepção de 10ppt.

A produção de cervejas que são engarrafadas em recipientes transparentes requer a utilização de 100% destes extratos para a composição de seu amargor e nenhuma outra fonte de isso-alfa-acidos não reduzidos pode estar presente na cerveja. Ou seja, não pode ser realizada a reutilização de trub quente, e no caso do reaproveitamento de levedura, estas devem estar completamente isentas de qualquer resíduo de alfa-ácidos. Embora o 3MBT não seja formado, outros compostos que afetam o paladar da cerveja podem vir a ser formados. Além disso, estes extratos não previnem a formação de compostos gerados em função de temperaturas elevadas no armazenamento ou de oxidação.




Os tetrahidro-iso-alfa-ácidos são produzidos a partir da hidrogenação e posterior isomerização ou da isomerização e posterior hidrogenação da molécula. Estes alfa-acidos isomerizados reduzidos podem ser produzidos também a partir de beta-acidos, mas por conta de seus efeitos microbianos, e questões de custo, os beta-acidos não tem sido mais utilizados para produzir tetrahidro-iso-alfa-ácidos.

A sensação de amargor dos tetrahidro-iso-alfa-ácidos é muito diferente da sensação de amargor dos iso-alfa-ácidos originais. Estas diferenças se observam tanto na percepção do amargor, que apesar de depender das características da cerveja, pode variar de 100 a 170%; quanto nas características do amargor, que é descrito como metálico ou áspero. Além do efeito principal de proteção a luz, estas substâncias contribuem para a formação da espuma.

A dosagem normal dos tetrahidro-iso-alfa-ácidos varia de 3 a 5ppm. Estes compostos são extremamente estáveis as condições de oxidação e são comercializados em soluções aquosas contento aproximadamente 10% de substância pura.

Os hexahidro-iso-alfa-ácidos são produzidos a partir dos tetrahidro-iso-alfa-ácidos. Sua forma comercial apresenta 10% de uma solução contendo hexahidro-iso-alfa-ácidos e tetrahidro-iso-alfa-ácidos numa proporção entre 50:50 e 60:40. Uma vez que a conversão da substância diminui sua velocidade a medida em que a substância original é convertida, e que para a obtenção de rendimentos maiores seriam necessários tempos maiores de reação e aumento de custos. A sensação de amargor dos hexahidro-iso-alfa-ácidos é de 110% em relação a mesma quantidade de iso-alfa-ácidos, e da mistura 130%.

Extratos de lúpulo apresentam redução ainda maior da massa e do volume dos lúpulos naturais, resultando em redução de gastos com transportes e armazenamento.  Extratos pré-isomerizados apresentam benefícios parecidos aos do pellets isomerizados, além de aumentar o aproveitamento dos componentes de amargor. A extração dos isso-alfa-acidos na fervura é completa entre 10 e 15 minutos. 

Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

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Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009