terça-feira, 30 de agosto de 2016

Da flor ao pellet de lúpulo

Olá Pessoal,

O texto de hoje é sobre lúpulo. O texto aborda os produtos de lúpulo mais simples, com foco nas mais variadas formas de pellets. Da flor aos varios tipos de pellets tem muita coisa nova para você descobrir!

Produtos de lúpulo costumam ser utilizado para melhorar ou atribuir algumas características desejáveis a cerveja. Para atingir estes objetivos, podem ser utilizados lúpulos em em diferentes formadas. Diferentes métodos de processamento do lúpulo são responsáveis por diferentes apresentações deste produto. O lúpulo pode ser encontrado em sua forma original, de flor, plugs, pellets, ou sob a forma de extrato.


Lúpulo em flor, plug e pellets - Da direita para a esquerda

No momento da colheita, os cones, ou umbelas, possuem umidade em torno de 75-80% da massa. Com o processamento, esta umidade é reduzida para 10-12%, para que se obtenham melhores condições de armazenamento. O processo de secagem é realizado cuidadosamente, com temperaturas controladas, na faixa de 62-65°C, para evitar a perda de resinas e óleos essenciais.

Os cones ou flores de lúpulo são apresentados da maneira como são colhidas. Um problema associado a eles é que dificilmente estas flores são empacotadas em embalagens livres de oxigênio, o que resulta na oxidação e envelhecimento do lúpulo. No entanto, estes processos podem ser minimizados com armazenagem correta do lúpulo ao abrigo da luz, com umidade e temperatura controladas.

Os plugs são a forma mais moderna de apresentação do lúpulo. Esta forma consiste em discos de lúpulo prensados a partir das flores de lúpulo. Os plugs combinam o frescor do lúpulo em flor, com a conveniência dos pellets, embora o processamento para confecção dos plugs resulte em maior quantidade de glândulas de lupulina intactas. Plugs também são conhecidos como hoplets tipo 100. Inicialmente, este produto foi desenvolvido com vistas para utilização no processo de dry-hopping, ou processo de extração a frio, uma vez que os plugs encaixam perfeitamente nas aberturas pelos quais os barris são enchidos.

Pós de lúpulo são formados a partir da trituração dos cones de lúpulo contendo de 6-7% de umidade. A secagem é feita a 65°C e a trituração a -35°C, para que o lúpulo se torne menos “pegajoso”. Após triturado, o volume do pó é 6 vezes inferior ao volume original. Apesar disso, o armazenamento do lúpulo em pó sempre foi problemático por conta de aspectos ligados a deterioração da matéria prima. Por conta da maior superfície de contato, há maior facilidade da perda de aromas e oxidação das resinas. Quando as embalagens a vácuo surgiram, este problema foi parcialmente resolvida. No entanto, os pós vem sendo utilizados na confecção de pellets, que, por conta da menor superfície de contato, sofrem menos com oxidação.

Pó de lúpulo


Os pellets são criados a partir da trituração das flores de lúpulo e compactação em pequenos pellets. Uma das vantagens do pellet reside no fato de que os pellets ocupam apenas um quarto do espaço das flores inteiras. Por outro lado, este processo também provoca a ruptura das glândulas de lupulina. A ruptura destas glândulas, no entanto, permite que as resinas e os ácidos sofram isomerização mais rapidamente. As condições de armazenamento são facilitadas e o lúpulo mais estável. A fim de protege-lo da oxidação, a melhor maneira é armazená-los em embalagens com atmosfera modificada, contendo nitrogênio, ou em embalagens que dificultem o acesso do oxigênio. Se armazenados corretamente, os pellets se deterioram numa velocidade dez vezes inferior a de degradação do lúpulo em flor.
    
Existem 2 tipos de pellets: Pellets 90 e pellets 45. Os pellets 90 são cones de lúpulo comprimidos em pellets. O nome é originado da ideia de que 100kg de lúpulo são reduzidos a 90kg, por conta das perdas de processo. Atualmente as perdas de processo são inferiores a isso, e o rendimento final dos pellets é superior a 90%.  No caso dos pellets tipo 45, os pellets são enriquecidos com lupulina. O número 45, indica que estes pellets apresentem o dobro da quantidade de lupulina do tipo 90, mas o teor original de alfa ácidos dos lúpulos é um fator limitante para o enriquecimento do lúpulo. Isto se justifica pelo fato de que elevados teores de alfa ácido gera problemas de processamento por conta da consistência da lupulina. Desse modo, o número 45 pode causar confusão, ficando o tipo 45 conhecido também por pellets enriquecidos com lupulina.

Ao contrários dos cones de lúpulo, os pellets de diferentes regiões e variedades podem ser blendados. Nesse caso, o laudo do lúpulo deve atestar as porcentagens e identificação das variedades utilizadas.

Basicamente, o processamento dos pellets enriquecidos com lupulina consiste numa sucessão de etapas. O processo de inicia com a preparação do lúpulo colhido, seguido da secagem, em que a umidade é reduzida até 8-10%. Após a secagem ocorre a limpeza, e congelamento a temperaturas negativas e moagem em moinhos martelo. O lúpulo triturado, então é peneirado, para separar a lupulina, de modo a permitir que os pellets possam ser enriquecidos. Em seguida ocorre a padronização, que é a etapa em que o teor de alfa ácidos é equilibrado com os fragmentos de bractéolas. Em seguida, a homogeneização e “pelletização”, e resfriamento instantâneo. Por ultimo, os pellets são empacotados em embalagens livres de oxigênio e empacotados em caixas. Os pellets, então, são armazenados de 0-5°C para prevenir a degradação dos alfa ácidos.

Em contraposição a suas vantagens de armazenamento, os pellets apresentam rendimentos relativamente baixos. Considerando o potencial de amargor presente neles, dificilmente 45% de isomerização das resinas é atingido durante uma hora de fervura. Por conta disso, os produtos de lúpulo vem sendo desenvolvidos com o intuito de aumentar a proteção dos alfa e beta ácidos e aumentar a isomerização.

Neste contextos foram desenvolvidos pellets contendo de 1-3% óxido de magnésio. O resultado observado foi aumento das taxas de isomerização. Isto se deve ao fato de que os sais de magnésio formados a partir dos alfa e beta-ácidos apresentam solubilidade muito maior e são isomerizados mais rapidamente, devido a presença em excesso dos ions de magnésio. Estes pelletes são denominados estabilizados. Bentonita também foi incorporada aos pellets, resultando em aproveitamento 20% melhor do lúpulo durante a fervura, pelo fato deste composto aumentar a superfície de contato para que a isomerização ocorra.

Ainda com o objetivo de aumento da isomerização, foram desenvolvidos pellets isomerizados. A partir da exposição dos pellets estabilizados a temperatura de 80°C por duas horas, na ausência de oxigênio, a isomerização das resinas alfa e beta. Estes pellets se mostraram mais estáveis do que os pellets estabilizados, sem a necessidade de serem armazenados a baixas temperaturas. O uso destes pellets torna possível o atingimento de 60% de isomerização, além de que tempos menores de fervura passam a ser possíveis.

Os iso-alfa-ácidos nos pellets isomerizados apresentam boa estabilidade. A temperatura ambientes, a perda dos isso-alfa-acidos é menor do que 5% em 2 anos. A adição do hidróxido de magnésio e o subsequente aquecimento altera a composição das substâncias de aroma, reduzindo as quantidades de polifenóis de baixo peso molecular, terpenos, sesquiterpenos e linalol.


Produtos isomerizados, são produzidos a partir da isomerização das resinas, ainda no processamento. Há, basicamente, 2 tipos principais de produtos isomerizados. Um deles é destinado a dosagem na fervura, como os pellets isomerizados e os extratos pré-isomerizados. O outro grupo é das formas que devem ser dosadas após a fermentação, conhecidas também como produtos downstream, ou produtos pós fermentação. O processo é conduzido basicamente a partir da conversão dos alfa-ácidos em sais de potássio ou magnésio, que são mais solúveis, em elevada faixa de pH, de 8 a 11, em contraposição ao ph de 5,2-5,6 na fervura, a temperaturas elevadas. Estes 3 fatores favorecem a reação de isomerização das resinas.

Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio, dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !

e obrigado pela atenção!

Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Os polifenóis do lúpulo

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre lúpulo. Ele faz uma curta introdução aos polifenóis presentes no lúpulo. 

Do ponto de vista cervejeiro, há 3 grupos de substâncias de grande interesse no lúpulo: as resinas; os agentes flavorizantes e; os polifenóis. No entanto, o perfil químico do lúpulo depende da variedade, origem, tempo de colheita, secagem e condições de armazenamento.

Os polifenóis do lúpulo, em massa seca, representam de 4 a 14%, e tem impacto significativo sobre a cerveja, a exemplo do impacto sobre a espuma. Dentre outras propriedades, polifenóis de baixo peso molecular apresentam propriedades antioxidantes.

Aproximadamente de 20 a 30% dos polifenóis contidos no mosto e na cerveja são originados do lúpulo. O restante é oriundo do malte.

Em particular, proantocianidinas compostas de unidades de catequinas ou leucoantocianidinas são a causa da precipitação de proteína e turbidez. Este grupo de substâncias são mais conhecidos como antocianogênios na área de cervejaria.

Ácidos fenólicos são precursores de aromas específicos na cerveja, como é o caso do ácido ferúlico. O ácido ferúlico é convertido em 4-vinil-guaiacol, que delega a cerveja um aroma de cravo, típico das cervejas de trigo. Lúpulos também contém 4-vinil-guaiacol, mas pela quantidade utilizada, não dá para comparar com os níveis obtidos a partir dos maltes de cevada e de trigo, que são utilizado numa escala muito maior.


4-vinil-guaiacol

Polifenóis de baixo peso molecular são anti-oxidantes naturais e aumentam o poder redutor da cerveja. Eles protegem a cerveja das reações de oxidação e assim, indiretamente, elevam a estabilidade do sabor. Estas substâncias atuam como sequestrantes de radicais (conhecidos como “radicais livres”) no corpo humano. Como exemplo, tem-se o prenilflavonoide xantohumol, localizado nas glândulas de lupulina, que apresentou ação anti-carcinogênica em testes in vitro e em animais, isto é, apresentou efeito de diminuição da frequência ou redução da velocidade de desenvolvimento de câncer.


Glandulas de lupulina


Lúpulos de aroma possuem quantidades maiores de polifenóis de baixo peso molecular do que lúpulos de amargor. Tais diferenças ocorrem em função das variedades, local de cultivo e evolução do desenvolvimento da planta.

Polifenóis de alto peso molecular podem elevar a cor da cerveja, especialmente após longos tempos de fervura. Além disso, eles podem causar um amargor adstringente. Estas substâncias reduzem a estabilidade coloidal da cerveja e provocam turbidez da mesma. O excesso de polifenóis é reduzido ou parcialmente removido, principalmente para aumentar a estabilidade coloidal da cerveja.

Para elevar a estabilidade coloidal, podem ser utilizados extratos de lúpulo livres de polifenol. Os problemas de turbidez causados pelos polifenóis podem ser resolvidos na filtração da cerveja pela adsorção de Polivinilpolipirolidona (PVPP). Polifenóis são parcialmente removidos pela separação do trub quente, e do trub frio, lama de levedura e filtração.


Apesar disso, polifenóis apresentam efeito anti-oxidante, anti-carcinogênico, anti-inflamatório, antimicrobiano, modulador do sistema imunológico e controlador da pressão sanguínea em humanos.


Uma garrafa de polifenol

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Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Compostos de aroma no lúpulo

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre lúpulo. Ele faz uma curta introdução aos óleos essenciais e compostos de aroma presentes no lúpulo. Este texto é apenas uma base para o que está por vir!

Do ponto de vista cervejeiro, há 3 grupos de substâncias de grande interesse no lúpulo: as resinas; os agentes flavorizantes e; os polifenóis. No entanto, o perfil químico do lúpulo depende da variedade, origem, tempo de colheita, secagem e condições de armazenamento.

O lúpulo possui de 0,4 a 2,0% de agentes flavorizantes em sua massa seco.  Por agentes flavorizantes entende-se s óleos essenciais responsáveis por delegar aroma a cerveja. A composição dos óleos essenciais no lúpulo depende da variedade e pode ser fortemente influenciada pelas condições de secagem e pelas condições de processamento

Os óleos essenciais, assim como as resinas, são originados das glândulas de lupulina. Até agora mais de 300 substâncias voláteis já foram identificadas no lúpulo. A maior porção destes óleos é formada por hidrocarbonetos. Entre eles os presentes em maiores quantidades são o monoterpeno mirceno, os sesquiterpenos humuleno e o cariofileno.




O mais presente deles é o mirceno, com teores que variam de 17-37% da quantidade total de óleos. Apesar da sua elevada quantidade, o mirceno é considerado indesejado. Um dos motivos para a realização da fervura do mosto, é inclusive, a volatilização do mirceno. Este é um fato que depende do estilo e do perfil desejado da cerveja a ser produzido. Apenas alguns poucos hidrocarbonetos resistem ao processo de fervura.

Os terpenos que possuem oxigênio em sua molécula, o linalol e geraniol apresentam aroma floral e rosáceo, respectivamente.


Uma bela molécula de geraniol

Ácidos graxos, por sua vez, são os maiores responsáveis pelos aromas que remetem a queijo, especialmente quando o lúpulo é armazenado em condições inadequadas.

Esteres contribuem para um aroma frutado e são, quantitativamente, os compostos oxigenados de maior importância e alguns deles persistem na cerveja mesmo após a fervura, e durante a fermentação pode ocorrer transesterificação.

Os níveis destes compostos tendem a se elevar ao longo do armazenamento do lúpulo, parcialmente porque eles se derivam da oxidação de hidrocarbonetos. A exemplo dos epoxidos, que são formados pela auto-oxidação de sesquiterpenos.




Lúpulos também possuem substâncias aromáticas contendo enxofre, como tioesteres, sulfetos e compostos sulfurosos heterocíclicos. Compostos contendo enxofre apresentam limites de percepção sensorial muito baixos, dessa maneira contribuem significativamente para o perfil sensorial da cerveja. Além disso, vale ressaltar que o lúpulo também contem DMS, no entanto, a maior parcela dele, por razões óbvias, vem do malte. 

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Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
Brewing - Ian S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

As resinas do Lúpulo

Olá pessoal,

O texto de hoje é sobre lúpulo. Ele faz uma curta introdução as resinas presentes no lúpulo. Deste grupo, fazem parte os alfa-ácidos, ou humulonas, se você preferir. Este texto é apenas uma base para o que está por vir!

Do ponto de vista cervejeiro, há 3 grupos de substâncias de grande interesse no lúpulo: as resinas; os agentes flavorizantes e; os polifenóis. No entanto, o perfil químico do lúpulo depende da variedade, origem, tempo de colheita, secagem e condições de armazenamento.

As resinas do lúpulo correspondem de 10-20% da massa do lúpulo seco. A quantidade total de resinas representa a soma das resinas duras e resinas brandas.

As resinas são classificadas com base em sua solubilidade em solventes orgânicos. Se a fração de resinas for dissolvida em hexano, apenas parte dela irá se dissolver. A esta parte pertencem as resinas brandas. Já a fração insolúvel é composta pelas resinas duras.

A maior parte das resinas do lúpulo pertence ao grupo das resinas brandas, e estas podem ser divididas em dois grupos, a partir da sua reação com solução de acetato de chumbo. Se uma solução metanólica de acetato de chumbo for adicionada a uma solução metanólica de resinas brandas, haverá a formação de um precipitado amarelo. Este precipitado amarelo é a fração alfa, enquanto que a fração sobrenadante representa a fração beta. 

A maior porção das resinas brandas são os alfa-acidos (3-17%) e beta-ácidos(3-7%).Este valor corresponde a soma de todas as substâncias que geram amargor. Porém estas substâncias diferem uma da outra significativamente.

Os 5 subgrupos dos alfa-acidos são a humulona e cohumulona, adhumolona, prehumulona e poshumulone. Com relação aos beta-acidos, há 5 grupos de lupulonas, que diferem quimicamente das humulonas apenas em um aspecto em sua estrutura química.


Estrutura base dos alfa e beta ácidos, e seus análogos.


As humulonas ou alfa ácidos, portanto conferem a cerveja um agradável amargor, contribuem para a estabilidade da espuma e aumentam o tempo de vida de prateleira, com suas propriedades antibacterianas.

 Os alfa-ácidos são convertidos em iso-alfa-ácidos ao longo da fervura da cerveja. O processo é conhecido por isomerização. Ao passar pelo processo de isomerização, a humulona, aumenta sua solubilidade na cerveja, e dá origem origem as substâncias conhecidas como iso-alfa-acidos, ou isohumulonas. Estas substâncias e seus derivados são as substâncias ligadas ao amargor da cerveja.

Pesquisas em ratos mostraram que iso-alfa-acidos podem apresentar efeitos benéficos a saúde, como a supressão do acumulo de gordura e aumento da massa corporal, redução de colesterol e teor de trigliceridios no fígado e redução dos níveis de açúcar no sangue em animais que sofriam de diabetes. 



Os beta-ácidos, por sua vez, possuem baixa solubilidade no mosto e na cerveja, por isso contribuem muito pouco para o amargor da cerveja.

As resinas do lúpulo melhoram a digestão, a estabilidade da espuma da cerveja, elevam o potencial bacteriostático do mosto e da cerveja e o amargor. 

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Livros
Título - Autor - Ano
Beer in Health and Disease Prevention - Victor R. Preedy - 2008
BrewingIan S Hornsey – 1999
Brewing: New technologies - Charles Bamforth - 2006   
Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Homebrewing for dummies - Marty Nachel - 2008
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets -  Hans Michael Eßlinger – 2009

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Como aumentar a estabilidade da espuma na cerveja?

Olá pessoal,

O texto hoje é sobre espuma. Nesta terceira parte, veremos maneiras de aumentar a estabilidade da espuma e como algumas características de processos a afetam.

Ao longo do processo, a espuma presente no produto final pode ser drasticamente reduzida. Para tal, é necessário tomar alguns cuidados para que, ao final do processo, a cerveja apresenta uma espuma com características desejáveis. Além disso, levando em consideração os fatores que afetam a espumatanto positivamente, quanto negativamente , é possível deduzir que uma cerveja que não apresenta espuma com boa estabilidade vem acompanhada de outros defeitos. Alguns cuidados podem ser tomados para minizar os efeitos de alguns problemas decorridos ao longo processos sobre a espuma. Mas, além destes cuidados existem maneiras alternativas de melhoras as condições de estabilidade da espuma.


Também te amo, cerveja!


Há diversas maneiras de aumentar a estabilidade da espuma na cerveja. Uma delas é alterar o gás envolvido na formação da espuma. Para tal, deve ser levada em consideração a solubilidade de cada gás, uma vez que na constituição da bolha, o gás pode fluir para fora da bolha. Portanto, gases queapresentam menor solubilidade, tendem a formar espuma com maior retenção. Nesse contexto, o gás nitrogênio é um gás altamente recomendado por se dissolver significativamente menos do que o gás carbônico, e gerar espuma mais estável e com bolhas menores. No entanto o nitrogênio deixa a cerveja com paladar mais macio e suave, e sensação das bolhas estourando na boca que causam certo formigamento, no caso do gás carbônico, são perdidas.


Diferença de espuma entre espumas contendo diferentes gases


Outra possibilidade para elevar a estabilidade da espuma é a adição de sais ou agentes estabilizadores de espuma. A esse grupo pertencem primeiramente sais de ferro, com uso na ordem de 0,6g/hl, em combinação com agentes redutores, para evitar que a espuma adquira coloração marrom. Os sais de ferro, níquel e zinco associados a compostos proteicos de alto peso molecular também geram efeito estabilizante sobre a espuma. Também podem ser utilizados alginatos, goma xantana e goma arábica, nas doses recomendadas pelos fabricantes - No caso do alginato propileno glicol, 40g/hl.  No entanto, vale ressaltar que estes aditivos geram alteração no sabor, deixando-o mais suave. Outro ponto pertinente é que sua adição não é contemplada pela lei de pureza alemã.  A adição de sais deve ser feita de maneira cautelosa. Há algumas décadas, uma cervejaria canadense adicionou sais de cobalto para melhorar sua espuma, e como resultado, houve algumas vítimas fatais, já que estes sais não foram excretados do corpo, por aqueles que a consumiram.

Seguindo a lei de pureza alemã, a adição de extratos de lúpulo não isomerizados pode ser utilizada como ferramenta para melhorar a estabilidade da espuma, ainda que sejam pouco solúveis, por volta de 2mg/l. Fora da lei de pureza, podem ser adicionados de 3-5mg/l de tetrahidro-alfa-ácidos, com o mesmo objetivo. No entanto, seu excesso afeta a experiência do consumidor na percepção do amargor e gera uma formação não típica e usual da espuma.


Extrato de lúpulo


Seguindo adiante, falando de outra matéria prima da cerveja, a partir das características analíticas do malte, como teores de nitrogênio solúvel, viscosidade, diferença de moagem fina e grossa, conteúdo de beta-glucanas e tempo de filtração, não é possível prever as características da espuma. Por outro lado, os maltes e outros grãos que são indicados para melhoria da estabilidade de espuma apresentam desvantagens, no que tange a extrato, e filtrabilidade do mosto e da cerveja. 

Ainda com relação as matérias primas, ao buscar uma espuma com boa qualidade, algumas medidas que podem ser adotadas são: a seleção de maltes bem modificados, com diferença de extrato de moagem fina e moagem grossa inferior a 1,8% e; a seleção de produtos de lúpulo com as menores quantidades possíveis de taninos e produtos livres de polifenóis.

No que tange a condução do processo, temperaturas mais altas (78°C ao invés de 70-72°C) na clarificação também favorecem a formação de espuma. Em contrapartida, apresentam filtrabilidade menor e maior tendência a formação de turvação.

Fermentações conduzidas a temperaturas mais elevadas também afetam negativamente a estabilidade da espuma, pois mais subprodutos, que afetam a espuma negativamente, são produzidos. Além disso, efeitos negativos sobre a estabilidade da espuma podem ser observados nas etapas de maturação caso a purga da levedura seja realizada tardiamente.

Caso a maturação da cerveja seja realizada a temperaturas inferiores a 2°C e alta concentração de leveduras irá reduzir a estabilidade da espuma. Isso se deve ao fato de que ácidos graxos de cadeia média e gliceridios serão secretados. No pior dos casos, a levedura entrará em autólise. Liberando ainda mais substâncias que afetam negativamente a espuma.

Com o armazenamento a temperaturas elevadas, ou a pressão elevada, a levedura passa a secretar produtos de degradação que podem ser detectados a partir do comprometimento da espuma.

Em termos estatísticos, existe uma relação positiva entre o total de nitrogênio coagulável no mosto e com relação a presença de antocianogênios. Por outro lado, a relação entre a viscosidade do mosto e a estabilidade da espuma não é confirmada. Fatores que apresentaram correlação negativa com a estabilidade foram a concentração inicial do mosto e seu teor alcoolico. Em contrapartida, a relação de unidades de amargor e teor de alfa-acidos está relacionada a melhoria da estabilidade da espuma. Enquanto que os iso-alfa-acidos contribuem para o aumento da estabilidade da espuma e suas propriedades, elevando sua tensão superficial, elevados teores de alfa-acidos não isomerizados provavelmente são um sinal de eliminação insuficiente de substâncias que deterioram a espuma.

Fatores que, ao longo do processo, geram redução da estabilidade da espuma, portanto são: Espumamento excessivo ao longo da fermentação, resultando em perda de substâncias promotoras de espuma, induzido pela elevada liberação de gás carbônico; uso de cepas de leveduras com diferentes atividades de inibição de espuma; Stress da levedura, resultando na liberação substâncias que diminuem a estabilidade da espuma; uso inapropriado ou exagerado de anti-espumantes; uso de leveduras não-floculentas, que produzem cerveja com espuma menos estável que leveduras floculentas; condições de fermentação como aeração insuficiente do mosto, níveis elevados de trub, temperaturas elevadas e taxa de dosagem de leveduras; mudanças bruscas de temperatura, gerando stress da levedura; uso de enzimas proteolíticas como protetores coloidas anti-turvação, uma vez que elas também atuam sobre proteínas promotoras de espuma; contaminação com ácidos graxos, ceras, óleos; e supersaturação com gás carbônico.



Tanta espuma que eu quase não escapei


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Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer : A Quality perspective - Charles W. Bamforth; Inge Russell;  Graham G. Stewart - 2008 

Brewing: Science and Practice - D. E. Briggs;  P. A. Brookes; R. Steven; C. A. Boulton – 2004
Food Chemistry - H.-D. Belitz · W. Grosch · P. Schieberle - 2009
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets
 -  Hans Michael Eßlinger – 2009
Technology Brewing and Malting - Wolfgang Kunze
 – 1996