terça-feira, 11 de outubro de 2016

O que é realmente a lei de pureza alemã?


Olá pessoal,

O texto de hoje é um pouco diferente dos quais venho escrevendo. Mas já que estou na Alemanha, e a lei de pureza é o rege o mercado cervejeiro por aqui... Opa! É isso mesmo?

Nesse texto, trago uma reportagem bem interessante que li recentemente sobre alguns mitos e boatos sobre a lei de pureza alemã. O texto original é em Alemão, mas eu traduzi aqui na integra pra vocês. Espero que seja enriquecedor!  Boa leitura!


O que é na verdade a lei de pureza alemã?

Baseado em nossos muitos saberes sobre cerveja: O que é na verdade a lei de pureza (Reinheitsgebot)? Uma lei? Uma sugestão? Um feitiço? O que acontece quando se vai contra ela? Cadeia? Cervejeiros caseiros agem contra a lei? Nós iremos esclarecer alguns mitos e desmentir alguns mitos sobre a lei de pureza alemã.


O fato é: A lei de pureza de 1516 diz que cerveja na Alemanha só pode ser produzida a partir de 4 ingredientes. Outro fato é: Juridicamente, a lei de pureza não é lei, mas sim a lei provisória de tributação da cerveja de 1993. E: Cerveja artesanal e a lei de pureza não se contradizem.


A história da lei de pureza


A lei de pureza é celebrada como a primeira lei de defesa do consumidor do mundo. Faz algum sentido. Em partes. A cerveja alemã de antes de 1516 não era necessariamente apreciável. Meimendro, ovos, breu, giz, amanita muscaria, fel de boi/ bile bovina - tudo deve ter sido usado. No melhor dos casos a cerveja tinha sabor horrível, e no pior dos casos era venenosa ou mortal.

Apesar disso, a cerveja na idade média era a bebida para todos e até mesmo da manhã até a noite, e a menos que o cervejeiro não a diluísse com água, era mais seguro beber cerveja; através da fervura, pelo menos as bactérias presentes na água eram mortas. E se o cervejeiro adicionasse lúpulo, elas permaneceriam mortas e, ao contrário da água, não se ficaria doente a partir da cerveja. 


Decreto da câmara em Ingolstadt em abril de 1516


Já que com o lúpulo funcionou bem, os irmãos Herzog, Wilhelm IV e Ludwig X, que governavam a baviera, promulgaram na câmara de Ingolstadt  em 23 de abril de 1516 um decreto com o título "Como a cerveja deve ser produzida e servida no verão e inverno". Em alemão moderno, a tradução seria: Desejamos especialmente, que, de agora em diante, em todos os lugares em nossas cidades, mercados e no estado, não seja utilizado nada além de cevada, lúpulo e água na produção de cerveja. Quem, conscientemente, transgredir e não cumprir esta ordem, deve ser penalizado pelo tribunal, todas as vezes em que o caso ocorrer, tendo seu barril de cerveja rigosoramente recolhido.

A este trecho é ao qual hoje, 500 anos depois, se refere quando se fala da Lei de pureza alemã.. Hoje é permitido produzir cerveja na alemanha a partir de, exclusivamente 4 matérias primas:
  • Malte de cevada
  • Lúpulo
  • Água
  • Levedura (Cuja importancia não era conhecida por Wilhelm e Ludwig, e que por conta disso não foi mencionado no decreto)

Análise crítica da Lei de pureza


Ao considerar a história de maneira um pouco mais precisa, verifica-se que os 2 irmãos bávaros não estavam tratando do bem estar de seu povo. Aliás sim, mas não no sentido de querer que o povo bebesse boa cerveja. A lei de pureza alemã, de fato, é um decreto que se encaixa na categoria de "gestão de recursos"; "Trigo para os pães, cevada para a cerveja, aveia para os cavalos" era um dito popular na época. E isso está mascarado no decreto de Ingolstadt: Pessoal, vocês devem fazer cerveja com cevada. Nada mais!

A propósito, aos nobres da casa de Wittelsbach ficou assegurado o direito exclusivo de produzir a partir do trigo, ja naquela época as adoradas Weißbier (Weissbier). Eles contruiram um monopólio da cerveja de trigo e distribuiu licenças de produção, que gerava-lhes um bom dinheiro. Alguns historiadores dizem que com a arrecadação, os nobres Wittelsbacher financiaram a defesa de suas posses na guerra dos trinta anos



Lei de pureza enquanto UPS (Do inglês unique selling propositionproposta única de venda)

Nas décadas seguintes após Wilhelm e Ludwig, a lei de pureza foi afrouxada. Cerveja com mel ou cuminho, juniperus e sal eram comuns. E, na verdade, essa coisa de lei de pureza estava quase esquecida, até que um membro do parlamento bávaro pôs o ano de 1918 de ponta cabeça: Os bávaros exigem, como condicional, que para a sua entrada no império alemão, que sua lei da cerveja seja aplicada a toda Alemanha - motivo pelo qual a cerveja alemã deveria se destacar em campeonatos com cervejas de outros países.

Discussões atuais sobre a lei de pureza

No ano do 500° aniversário da lei de pureza se fala muito sobre o sentido e a falta de sentido deste decreto:

Os defensores da lei de pureza alegam, que a lei de pureza impede que lei alemã de cerveja seja igualada a da europa. Com isso, é possível assegurar a qualidade da cerveja, já que, ao contrário de outros países, não é permitido a utilização de adjuntos - fornecedores baratos de amido como arroz, ou milho-, utilização de enzimas - para acelerar o processo de mostura, assim como conservantes e aromatizantes artificiais. 

Críticos da lei de pureza afirmam que a lei de pureza seja uma ferramenta de marketing. Ela sugere que a cerveja na Alemanha é produzida do mesmo modo e da maneira artesanal como era há 500 anos - o que é uma bobagem, considerando gigantes e altamente automatizadas cervejarias. O consumidor também não veem quais controversos auxiliares de tecnologia podem ser utilizados, em parte, para tornar a cerveja mais clara e estável. Alguns críticos dizem também, que a lei de pureza tem a culpa pelo fato das cervejas artesanais terem demorado tanto para chegar aqui, já que ela impede uma variedade de cervejas. 


Cervejas artesanais e a lei de pureza

Equivocada, entretanto, é a hipótese de que cervejas artesanais e a lei de pureza não combinam. De fato, a maioria dos estilos de cerveja são possíveis de serem produzidos segundo a lei de pureza: IPA, Pale Ale, Berliner Weisse, Baltic Porter, Stout - É possível fazer de tudo. No entanto, com relação a lambic e Witbier há um "pulo do gato": Fora da Baviera não há problema. Na Baviera? De maneira nenhuma!

O fundamento legal para os cervejeiros artesanais e não artesanais na Alemanha é a lei provisória de tributação da cerveja de 1993. Segundo ela, pode ser nomeada "cerveja", aquilo que for produzido a partir de malte de cevada (para cervejas de trigo, malte de trigo), lúpulo, água e levedura. Excessões são possíveis. Para isso, segundo o paragrafo 9, um requerimento para "Produção de cervejas especiais" deve ser feito, que geralmente também é concedido. Apenas nos estados da Baviera e Baden-Württenberg não existe esse parágrafo. Não ainda. 


Panorama

No ano do décimo jubileu aumentam as sugestões no meio dos cervejeiros artesanais, que apoiam que a lei de pureza alemã deva ser transferida para uma "lei de naturalidade". Ninguém quer números E e aromatizantes feitos em laboratório na cerveja, mas talvez algumas caixas de morango orgânico ou a ideia por trás disso. E, de fato, se ouve sussuRros nos meios das federações alemã e bávaras, de que a lei dos 500 anos de idade talvez possa receber em breve uma pequena remodelação.


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