Olá pessoal,
O texto hoje é sobre espuma. Nesta terceira
parte, veremos maneiras de aumentar a estabilidade da espuma e como algumas
características de processos a afetam.
Ao longo do processo, a espuma presente no produto final pode
ser drasticamente reduzida. Para tal, é necessário tomar alguns cuidados para
que, ao final do processo, a cerveja apresenta uma espuma com características
desejáveis. Além disso, levando em consideração os fatores que afetam a espumatanto positivamente, quanto negativamente , é possível deduzir que uma cerveja que não apresenta espuma
com boa estabilidade vem acompanhada de outros defeitos. Alguns cuidados podem
ser tomados para minizar os efeitos de alguns problemas decorridos ao longo
processos sobre a espuma. Mas, além destes cuidados existem maneiras
alternativas de melhoras as condições de estabilidade da espuma.
![]() |
Também te amo, cerveja! |
Há diversas maneiras de aumentar a estabilidade da espuma na
cerveja. Uma delas é alterar o gás envolvido na formação da espuma. Para tal,
deve ser levada em consideração a solubilidade de cada gás, uma vez que na
constituição da bolha, o gás pode fluir para fora da bolha. Portanto, gases queapresentam menor solubilidade, tendem a formar espuma com maior retenção. Nesse contexto, o gás nitrogênio é
um gás altamente recomendado por se dissolver significativamente menos do que o
gás carbônico, e gerar espuma mais estável e com bolhas menores. No entanto o nitrogênio
deixa a cerveja com paladar mais macio e suave, e sensação das bolhas
estourando na boca que causam certo formigamento, no caso do gás carbônico, são
perdidas.
![]() |
Diferença de espuma entre espumas contendo diferentes gases |
Outra possibilidade para elevar a estabilidade da espuma é a
adição de sais ou agentes estabilizadores de espuma. A esse grupo pertencem
primeiramente sais de ferro, com uso na ordem de 0,6g/hl, em combinação com
agentes redutores, para evitar que a espuma adquira coloração marrom. Os sais
de ferro, níquel e zinco associados a compostos proteicos de alto peso
molecular também geram efeito estabilizante sobre a espuma. Também podem ser
utilizados alginatos, goma xantana e goma arábica, nas doses recomendadas pelos
fabricantes - No caso do alginato propileno glicol, 40g/hl. No entanto, vale ressaltar que estes aditivos
geram alteração no sabor, deixando-o mais suave. Outro ponto pertinente é que
sua adição não é contemplada pela lei de pureza alemã. A adição de sais deve ser feita de maneira
cautelosa. Há algumas décadas, uma cervejaria canadense adicionou sais de
cobalto para melhorar sua espuma, e como resultado, houve algumas vítimas
fatais, já que estes sais não foram excretados do corpo, por aqueles que a
consumiram.
Seguindo a lei de pureza alemã, a adição de extratos de
lúpulo não isomerizados pode ser utilizada como ferramenta para melhorar a
estabilidade da espuma, ainda que sejam pouco solúveis, por volta de 2mg/l.
Fora da lei de pureza, podem ser adicionados de 3-5mg/l de
tetrahidro-alfa-ácidos, com o mesmo objetivo. No entanto, seu excesso afeta a
experiência do consumidor na percepção do amargor e gera uma formação não típica
e usual da espuma.
![]() |
Extrato de lúpulo |
Seguindo adiante, falando de outra matéria prima da cerveja,
a partir das características analíticas do malte, como teores de nitrogênio
solúvel, viscosidade, diferença de moagem fina e grossa, conteúdo de
beta-glucanas e tempo de filtração, não é possível prever as características da
espuma. Por outro lado, os maltes e outros grãos que são indicados para
melhoria da estabilidade de espuma apresentam desvantagens, no que tange a
extrato, e filtrabilidade do mosto e da cerveja.
Ainda com relação as matérias primas, ao buscar uma espuma com boa qualidade, algumas medidas que
podem ser adotadas são: a seleção de maltes bem modificados, com diferença de
extrato de moagem fina e moagem grossa inferior a 1,8% e; a seleção de produtos
de lúpulo com as menores quantidades possíveis de taninos e produtos livres de
polifenóis.
No que tange a condução do processo, temperaturas mais altas
(78°C ao invés de 70-72°C) na clarificação também favorecem a formação de
espuma. Em contrapartida, apresentam filtrabilidade menor e maior tendência a
formação de turvação.
Fermentações conduzidas a temperaturas mais elevadas também
afetam negativamente a estabilidade da espuma, pois mais subprodutos, que
afetam a espuma negativamente, são produzidos. Além disso, efeitos negativos sobre a estabilidade da espuma
podem ser observados nas etapas de maturação caso a purga da levedura seja realizada tardiamente.
Caso a maturação da cerveja seja realizada a temperaturas inferiores
a 2°C e alta concentração de leveduras irá reduzir a estabilidade da espuma.
Isso se deve ao fato de que ácidos graxos de cadeia média e gliceridios serão
secretados. No pior dos casos, a levedura entrará em autólise. Liberando ainda
mais substâncias que afetam negativamente a espuma.
Com o armazenamento a temperaturas elevadas, ou a pressão
elevada, a levedura passa a secretar produtos de degradação que podem ser
detectados a partir do comprometimento da espuma.
Em termos estatísticos, existe uma relação positiva entre o
total de nitrogênio coagulável no mosto e com relação a presença de
antocianogênios. Por outro lado, a relação entre a viscosidade do mosto e a
estabilidade da espuma não é confirmada. Fatores que apresentaram correlação
negativa com a estabilidade foram a concentração inicial do mosto e seu teor
alcoolico. Em contrapartida, a relação de unidades de amargor e teor de
alfa-acidos está relacionada a melhoria da estabilidade da espuma. Enquanto que
os iso-alfa-acidos contribuem para o aumento da estabilidade da espuma e suas
propriedades, elevando sua tensão superficial, elevados teores de alfa-acidos
não isomerizados provavelmente são um sinal de eliminação insuficiente de
substâncias que deterioram a espuma.
Fatores que, ao longo do processo, geram redução da estabilidade da espuma, portanto são: Espumamento
excessivo ao longo da fermentação, resultando em perda de substâncias
promotoras de espuma, induzido pela elevada liberação de gás carbônico; uso de
cepas de leveduras com diferentes atividades de inibição de espuma; Stress da levedura, resultando na liberação
substâncias que diminuem a estabilidade da espuma; uso inapropriado ou
exagerado de anti-espumantes; uso de leveduras não-floculentas, que produzem
cerveja com espuma menos estável que leveduras floculentas; condições de
fermentação como aeração insuficiente do mosto, níveis elevados de trub,
temperaturas elevadas e taxa de dosagem de leveduras; mudanças bruscas de
temperatura, gerando stress da levedura; uso de enzimas proteolíticas como
protetores coloidas anti-turvação, uma vez que elas também atuam sobre
proteínas promotoras de espuma; contaminação com ácidos graxos, ceras, óleos; e
supersaturação com gás carbônico.
![]() |
Tanta espuma que eu quase não escapei |
Aguardo ansioso pela sua crítica, sugestão, elogio,
dúvida, ou qualquer outra maneira de colaboração via comentário, email etc. !
e obrigado pela atenção!
Fontes:
Livros
Título - Autor - Ano
Beer : A Quality perspective - Charles W. Bamforth; Inge Russell; Graham G.
Stewart - 2008
Brewing: Science
and Practice - D. E. Briggs; P. A. Brookes; R.
Steven; C. A. Boulton – 2004
Food Chemistry - H.-D. Belitz · W. Grosch · P. Schieberle - 2009
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets - Hans Michael Eßlinger – 2009
Technology Brewing and Malting - Wolfgang Kunze – 1996
Food Chemistry - H.-D. Belitz · W. Grosch · P. Schieberle - 2009
Handbook of Brewing: Processes, Technology, Markets - Hans Michael Eßlinger – 2009
Technology Brewing and Malting - Wolfgang Kunze – 1996
Nenhum comentário:
Postar um comentário